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MOVIMENTO SUSPEITO
O uso de informações privilegiadas com vista a ganhos no
mercado financeiro é um problema
global. No Brasil, não seria diferente,
especialmente tratando-se de um
país no qual as fronteiras entre o público e o privado mostram-se frequentemente mais tênues do que o
desejável. É conhecido, no país, o entra-e-sai de profissionais ligados a
instituições financeiras ou grupos
econômicos de cargos públicos com
importância estratégica.
Em que pesem mecanismos como
as quarentenas, o fato é que no Brasil
postos de comando na área econômica raramente são ocupados por
funcionários de carreira, dando-se
preferência a executivos ou mesmo
acionistas de empresas privadas.
Nesse ambiente de rarefação ética,
extremamente propício ao tráfego irregular de informações, seria de esperar uma redobrada atenção das
instâncias encarregadas de fiscalizar
os mercados. Merece, portanto,
atenção o caso das ações da Eletropaulo, cuja valorização na Bovespa
pode ter sido antecipada por alguns
operadores informados previamente
sobre o acordo entre a AES, controladora da empresa, e o Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES).
Como se sabe, a arrastada negociação da dívida da AES com o BNDES
terminou com o banco assumindo o
controle de 50% das ações de uma
nova companhia a ser criada. Com
isso, as perspectivas da Eletropaulo
tornaram-se mais positivas, acarretando, obviamente, elevação de sua
cotação no mercado acionário.
A CVM considerou anormais as negociações dos papéis da empresa
nos dias que antecederam o anúncio
do acordo com o BNDES e decidiu
proceder a uma apuração, levantando informações sobre quem operou
com as ações. Desnecessário dizer
que não são pequenas as chances de
que investigações como essa esbarrem nos subterfúgios comumente
utilizados para encobrir o fluxo irregular de informações. Isso não significa -ao contrário- que ela não deva ser levada adiante da forma mais
rigorosa possível.
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