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São Paulo, sábado, 13 de setembro de 2003

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O PESO DE ARAFAT

Ao que tudo indica, Israel cometerá um grave erro se levar a cabo a decisão de expulsar ou eliminar Iasser Arafat. Não se trata de enfeitar o líder palestino com virtudes que ele não possui. Em que pese sua histórica trajetória de lutas, Arafat, na melhor das hipóteses, tem-se revelado um governante de competência questionável, cercado de suspeitas de corrupção. Na pior, seria, além disso, um maquiavélico incentivador do terrorismo palestino.
O caso é que Israel tem pouco a ganhar e muito a perder com a expulsão do líder. O efeito mais evidente seria o recrudescimento do nacionalismo palestino e do terrorismo. Se Arafat é de fato um obstáculo à paz, como quer o governo israelense, não seria boa política tomar decisões que reforcem sua popularidade.
No mais, não é unânime a avaliação de que Arafat controla os grupos radicais e, se quisesse, teria condições de conter o terrorismo. Para alguns analistas, a permanência do líder palestino no poder seria insustentável caso procurasse reprimir as organizações extremistas. Se se atrevesse a fazê-lo, correria o risco de provocar uma guerra envolvendo as diversas facções da qual ele poderia sair derrotado.
Seja como for, não cabe a Israel escolher os líderes dos palestinos, assim como não cabe aos palestinos indicar o primeiro-ministro de Israel. Não é demais lembrar que Iasser Arafat é o único dirigente do mundo árabe eleito num pleito direto razoavelmente crível, apesar de isso ter ocorrido no já longínquo 1996.
Goste-se ou não de Arafat, ele representa os palestinos com os quais Israel precisa negociar. No limite, uma liderança palestina considerada aceitável pelo gabinete do premiê Ariel Sharon tende a não contar com o necessário respaldo popular para agir. A paz, por definição, só pode ser celebrada entre adversários.


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