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São Paulo, sábado, 13 de setembro de 2003

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OCUPAÇÃO IRRACIONAL

O crescimento desordenado da cidade de São Paulo em direção às periferias, entre várias outras consequências negativas, produz o desmatamento do equivalente a dois parques do Ibirapuera (3,2 km2) por ano. Dos 53,45 km2 de vegetação significativa em volume que a cidade perdeu entre 1991 e 2000, 34,2 km2, ou 60%, estavam localizados em dez distritos periféricos.
A perda dessa massa verde traz uma série de consequências. Em primeiro lugar, o desmatamento favorece a ocorrência de deslizamentos e de enchentes. Ele também tende a aumentar a poluição ambiental, principalmente por poeira, e a facilitar a contaminação dos mananciais. Ainda em termos ambientais, as áreas desflorestadas geram ilhas de calor que facilitam a formação de tempestades de verão.
O fenômeno adquire dimensões mais graves quando se considera que pelo menos parte da destruição poderia ter sido evitada com uma utilização mais racional dos espaços já abertos na cidade. Não faz muito sentido avançar rumo à periferia quando há possibilidade de melhor aproveitamento de áreas nas regiões centrais da capital.
A exploração mais intensiva dessas zonas não apenas pouparia a vegetação como redundaria na otimização do uso de equipamentos e serviços. Com efeito, nessas regiões já estão disponíveis itens como rede de abastecimento de água e esgoto, ruas asfaltadas, coleta de lixo, fornecimento de luz, telefone, transporte público, escolas, serviços de saúde e tantos outros que, nas periferias, ainda estão por ser instalados.
Assim, é enganoso dizer, como afirma o governo do Estado de São Paulo, que é mais barato construir novas habitações na periferia do que reformar imóveis velhos na região central. Essa conta só é verdadeira quando se desconsideram os custos da infra-estrutura e serviços, que, mais cedo ou mais tarde, terão de ser levados às áreas mais afastadas.
São Paulo já cresceu caoticamente por tempo demais. Passa da hora de tentar impor um pouco de ordem e planejamento. O resultado poderá ser medido não só financeiramente como também em termos de qualidade de vida.


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