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OCUPAÇÃO IRRACIONAL
O crescimento desordenado
da cidade de São Paulo em direção às periferias, entre várias outras consequências negativas, produz o desmatamento do equivalente
a dois parques do Ibirapuera (3,2
km2) por ano. Dos 53,45 km2 de vegetação significativa em volume que a
cidade perdeu entre 1991 e 2000, 34,2
km2, ou 60%, estavam localizados
em dez distritos periféricos.
A perda dessa massa verde traz
uma série de consequências. Em primeiro lugar, o desmatamento favorece a ocorrência de deslizamentos e
de enchentes. Ele também tende a
aumentar a poluição ambiental,
principalmente por poeira, e a facilitar a contaminação dos mananciais.
Ainda em termos ambientais, as
áreas desflorestadas geram ilhas de
calor que facilitam a formação de
tempestades de verão.
O fenômeno adquire dimensões
mais graves quando se considera que
pelo menos parte da destruição poderia ter sido evitada com uma utilização mais racional dos espaços já
abertos na cidade. Não faz muito
sentido avançar rumo à periferia
quando há possibilidade de melhor
aproveitamento de áreas nas regiões
centrais da capital.
A exploração mais intensiva dessas
zonas não apenas pouparia a vegetação como redundaria na otimização
do uso de equipamentos e serviços.
Com efeito, nessas regiões já estão
disponíveis itens como rede de abastecimento de água e esgoto, ruas asfaltadas, coleta de lixo, fornecimento
de luz, telefone, transporte público,
escolas, serviços de saúde e tantos
outros que, nas periferias, ainda estão por ser instalados.
Assim, é enganoso dizer, como
afirma o governo do Estado de São
Paulo, que é mais barato construir
novas habitações na periferia do que
reformar imóveis velhos na região
central. Essa conta só é verdadeira
quando se desconsideram os custos
da infra-estrutura e serviços, que,
mais cedo ou mais tarde, terão de ser
levados às áreas mais afastadas.
São Paulo já cresceu caoticamente
por tempo demais. Passa da hora de
tentar impor um pouco de ordem e
planejamento. O resultado poderá
ser medido não só financeiramente
como também em termos de qualidade de vida.
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