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CLAUDIA ANTUNES
Estranha normalidade
RIO DE JANEIRO - À exceção de São Paulo, front da batalha nacional entre petistas e tucanos, e de outras poucas cidades em que o resultado eleitoral também pode minar ou impulsionar pretensões de pré-candidatos à Presidência em 2006, a campanha municipal está esvaziada de paixões políticas e não estimula maiores emoções nos eleitores.
Embora faltem apenas 20 dias para
3 de outubro, a escolha dos futuros
prefeitos não é assunto que tenha
chegado aos almoços de família e às
mesas de bar. Quando invadem as
conversas privadas, as menções às
campanhas são passageiras, e seu foco quase nunca é o jogo de poder entre forças partidárias, mas a simpatia
pessoal ou o desprezo pela figura desse ou daquele candidato.
Quase 20 anos depois da redemocratização, com a rotina eleitoral repetindo-se sem risco de interrupções,
esse clima desapaixonado seria natural e até desejável. Como nas democracias consolidadas há mais tempo,
ir às urnas, ainda mais em eleições
locais, é só mais um fato da vida, que
não representa nem deveria criar expectativas de grandes mudanças.
O único, mas importante, porém é
que não estamos, por exemplo, na
Europa, onde a maior homogeneidade social e educacional faz com que
os cidadãos sejam tratados como
iguais na hora da disputa pelo voto.
No Brasil, a normalização do ritual
eleitoral está acontecendo num patamar viciado, em que as carências primárias da população mais pobre são
exploradas e os serviços públicos são
usados para promover candidaturas.
Chama a atenção nesta campanha
a consolidação de práticas como a
distribuição de cestas básicas e a oferta de tratamentos médicos por candidatos a vereador, além da manipulação eleitoreira de programas de
transferência de renda. Antes vistas
como distorções típicas do atraso político, essas práticas não apenas se
mantêm no interior como ganham
fôlego novo nas metrópoles, provocando mais cinismo e indiferença do
que indignação.
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