São Paulo, segunda-feira, 13 de setembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CLAUDIA ANTUNES

Estranha normalidade

RIO DE JANEIRO - À exceção de São Paulo, front da batalha nacional entre petistas e tucanos, e de outras poucas cidades em que o resultado eleitoral também pode minar ou impulsionar pretensões de pré-candidatos à Presidência em 2006, a campanha municipal está esvaziada de paixões políticas e não estimula maiores emoções nos eleitores.
Embora faltem apenas 20 dias para 3 de outubro, a escolha dos futuros prefeitos não é assunto que tenha chegado aos almoços de família e às mesas de bar. Quando invadem as conversas privadas, as menções às campanhas são passageiras, e seu foco quase nunca é o jogo de poder entre forças partidárias, mas a simpatia pessoal ou o desprezo pela figura desse ou daquele candidato.
Quase 20 anos depois da redemocratização, com a rotina eleitoral repetindo-se sem risco de interrupções, esse clima desapaixonado seria natural e até desejável. Como nas democracias consolidadas há mais tempo, ir às urnas, ainda mais em eleições locais, é só mais um fato da vida, que não representa nem deveria criar expectativas de grandes mudanças.
O único, mas importante, porém é que não estamos, por exemplo, na Europa, onde a maior homogeneidade social e educacional faz com que os cidadãos sejam tratados como iguais na hora da disputa pelo voto. No Brasil, a normalização do ritual eleitoral está acontecendo num patamar viciado, em que as carências primárias da população mais pobre são exploradas e os serviços públicos são usados para promover candidaturas.
Chama a atenção nesta campanha a consolidação de práticas como a distribuição de cestas básicas e a oferta de tratamentos médicos por candidatos a vereador, além da manipulação eleitoreira de programas de transferência de renda. Antes vistas como distorções típicas do atraso político, essas práticas não apenas se mantêm no interior como ganham fôlego novo nas metrópoles, provocando mais cinismo e indiferença do que indignação.

Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: Os efeitos do PT grande
Próximo Texto: João Sayad: Onze de Setembro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.