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TENDÊNCIAS/DEBATES
Conselho aos candidatos
ISRAEL KLABIN
Não ouvi de nenhum dos candidatos um projeto com credibilidade para o desenvolvimento sustentável de longo prazo
ENTRE OS ensinamentos paternos, guardo alguns que são preciosos e que poderiam servir
muito bem para direcionar os candidatos à Presidência da República e
suas coortes. Dizia-me ele: "Meu filho, conselho, só com metade à vista".
As prioridades dadas em seus discursos fazem dos nossos candidatos,
todos eles, pouco críveis, distanciados
de uma visão de esperança no futuro,
lidando com crises setoriais que são
lugares comuns e óbvios ululantes.
Reforma do campo, reforma da cidade, construção de estradas, reforma
tarifária, reforma política... Não há
um eleitor, mais ou menos politizado,
que não saiba de cor tudo aquilo de
que o país precisa.
No entanto, até agora, não ouvi de
nenhum dos candidatos uma agenda
para o futuro, um projeto com credibilidade para o desenvolvimento sustentável de longo prazo que resguarde para os pósteros a herança de acesso a recursos naturais finitos que hoje
temos à nossa disposição.
Amanhã, seguramente, esses recursos faltarão -seja a água, seja o ar,
sejam as florestas, seja a energia ou
seja qualquer outro-, e só serão
transferidos para o futuro por meio
de um projeto economicamente viável, ambientalmente responsável e
socialmente justo. Essa proposta seria a "metade à vista" que nós todos
almejamos.
A ecologia -cujas raízes "eco" e "logos" significam organização da casa,
ou seja, da própria vida de cada um de
nós que moramos nesse planeta-
não atingiu, nem de raspão, a programação de nenhum dos candidatos à
Presidência da República.
E, no entanto, todas as outras assim
chamadas prioridades perdem a sua
importância perto da preliminar ecológica. Sem o "logos" da organização
eficiente do uso de recursos naturais
e do próprio homem nas suas diversas
atividades, caminharemos, rapidamente, para um ciclo curto e destrutivo de uma economia predatória que
tem sido alardeado pelos candidatos.
Os dois problemas ambientais mais
importantes e de maior urgência que
deveriam fazer parte essencial das
propostas dos candidatos que pretendem chegar à Presidência da República seriam:
1) uma reforma profunda do atual
modelo de governança do meio ambiente;
2) um estudo crítico de toda a legislação ambiental hoje existente no
Brasil, que é confusa, contraditória,
ineficiente e conducente, entre outras coisas, a altas taxas de corrupção
oriunda de corruptos e de corruptores que encontram facilidade na legislação vigente.
Cada vez é mais claro que todas as
agências governamentais de água, de
energia elétrica e de petróleo -e tantas mais que possam existir- deveriam responder a uma lei maior de
um órgão regulamentador, regulador
e que possa monitorar as relações de
sustentabilidade de todos os recursos
naturais, sejam eles hídricos, sejam
florestais, sejam energéticos ou sejam
minerais.
Considerando todos os anacronismos contidos nas legislações brasileiras em vigor -da nossa Constituição
Federal às leis e regulamentos de nível estadual e municipal-, é consciência coletiva para todos nós, ambientalistas, que a maior e mais urgente necessidade de modernização
está na legislação ambiental.
Uma modernização que possa, definitivamente, dar uma visão de longo
prazo para o projeto de desenvolvimento econômico, social e ambiental
é o que desejamos que seja a promessa e a proposta maior de um futuro
governo para o Brasil.
ISRAEL KLABIN, 79, engenheiro, pós-graduado pelo Instituto de Ciências Políticas (França), é presidente da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável e
membro do conselho de administração da Klabin S/A. Foi
prefeito do Rio de Janeiro (1979 a 1983).
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