|
Próximo Texto | Índice
Editoriais
editoriais@uol.com.br
Assunto da Bolívia
Atuação diplomática do Brasil na crise boliviana deve respeitar soberania do país e buscar o diálogo entre partes em conflito
O
PRESIDENTE da Venezuela não perdeu a
oportunidade de exibir
seu histrionismo a respeito da grave crise que se abate
sobre a Bolívia. Em "solidariedade" a seu colega Evo Morales,
que expulsara o embaixador dos
EUA em La Paz, Hugo Chávez fez
o mesmo com o representante
americano em Caracas.
Se a atitude de Morales já contribuíra para aumentar ainda
mais a estridência do confronto
que trava com governadores
oposicionistas, a entrada em cena de Chávez -como de costume, aliás- piora as coisas. A cada
rodada em que mais radicalismo
é lançado sobre o conflito boliviano, uma saída negociada, não-violenta, para o impasse fica
mais distante e mais custosa.
A violência, infelizmente, começa a fazer vítimas. Na quinta,
um choque entre opositores e
defensores de Morales deixou 14
mortos em Pando. O departamento, no norte do país, integra
a chamada meia-lua, região cujos
governadores patrocinam atos
de rebeldia ostensiva contra o
governo central. Manifestantes
ocupam instalações federais e
aeroportos, fecham rodovias e
fronteiras e ameaçam o envio de
gás natural para o Brasil.
Os protestos oposicionistas estão relacionados, basicamente,
aos pleitos por mais autonomia
para as regiões da planície- onde estão fontes importantes do
dinamismo econômico da Bolívia, como as jazidas de gás e as
plantações de soja. Os oposicionistas também combatem a
Constituição aprovada pela
maioria favorável a Morales.
Mas os políticos que dominam
a meia-lua deixaram de lado seus
objetivos programáticos e optaram pela violência e pela intimidação, com o fito de desestabilizar o presidente Morales. Este,
por seu turno, demonstra inabilidade desde a posse. Impôs o
sectarismo étnico e o revanchismo histórico como linhas de governo. Não soube perceber que a
realidade é mais complexa e que
a manutenção da hoje precária
coesão nacional depende de uma
negociação com a oposição.
Ameaçado pelo corte do gás
que ainda é essencial para sustentar atividades fabris, de transporte e residenciais, o Brasil tem
pouco a fazer para solucionar a
crise boliviana. Foi importante,
para não incentivar ânimos separatistas ou golpistas, Brasília
ter deixado claro que não reconhecerá nenhuma ruptura institucional no país vizinho.
Outra atitude correta é a tentativa de intermediar, com Argentina e Colômbia, um diálogo entre Morales e a oposição. É o máximo que está ao alcance do Itamaraty e do presidente Lula para
favorecer o desfecho negociado
numa crise que é assunto interno
da Bolívia.
Bravatas intervencionistas como a adotada por Chávez, que
prometeu ajuda militar ao evismo no caso de um golpe, devem
continuar fora de cogitação.
Próximo Texto: Editoriais: Crédito apertado Índice
|