São Paulo, sábado, 13 de setembro de 2008

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Editoriais

Crédito apertado

AS CONDIÇÕES de financiamento das empresas brasileiras vêm passando por mudanças importantes neste ano -algumas negativas, outras positivas, que sugerem amadurecimento do sistema financeiro.
Em grande medida as mudanças refletem a crise financeira nos países ricos. No exterior, predomina a aversão ao risco, e o dinheiro para empréstimos e compra de títulos é escasso. As operações de abertura de capital e de lançamento de ações na Bovespa, febris no ano passado, foram praticamente paralisadas.
Também a captação de recursos por meio do lançamento de bônus no mercado internacional ficou muito difícil. Mesmo aceitando pagar juros salgados, companhias brasileiras de primeira linha não conseguem atrair investidores. O exemplo mais recente foi o de uma grande empresa de telefonia, que cancelou emissão de bônus no exterior.
Esses movimentos adversos vêm sendo compensados, embora parcialmente, pela forte expansão das operações de crédito do BNDES. Outro fator compensatório -ainda mais importante, pelo que abre de perspectivas para o futuro- é a disposição que o sistema bancário doméstico demonstra para expandir fortemente o crédito às empresas.
O fôlego dessa ofensiva dos bancos, no entanto, tenderá a refluir nos próximos meses, pois o custo do dinheiro está em alta, o que torna mais difícil captar recursos no mercado.
É alentador, nesse contexto, que não tenha sido unânime a decisão do Banco Central de aumentar em 0,75 ponto percentual da taxa de juros básica. O fato de três dos oito integrantes do Copom terem votado, na quarta, por uma elevação menor, de meio ponto percentual, favorece a percepção de que a turbulência externa já lança areia nas engrenagens da inflação brasileira.
Seja porque está em curso uma queda mundial nos preços das matérias-primas, seja porque a crise global restringe o crédito -e a demanda- em toda a parte, é prudente que o BC modere a mão pesada com que tem elevado a Selic.


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