São Paulo, segunda-feira, 13 de setembro de 2010

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TENDÊNCIAS/DEBATES

As duas faces do Butantan

LUCIANA CEZAR DE CERQUEIRA LEITE



O novo sistema de gestão implantado na Fundação Butantan possibilitará uma real discussão de prioridades em pesquisa e em produção


O Instituto Butantan é uma instituição singular, que tem a missão de realizar pesquisas biomédicas e prover produtos para a saúde pública. Começou em 1901, produzindo soro contra a peste e investigando venenos de serpentes para desenvolver os soros antivenenos.
Foi esta dualidade que estabeleceu o reconhecimento internacional da instituição. Nos seus mais de cem anos, teve seus altos e baixos.
Na gestão do dr. Beçak houve um processo de renovação, tanto de pesquisa quanto do parque tecnológico, com a criação da Fundação Butantan, que teve continuidade na gestão do dr. Isaias Raw.
Foi o fato de os dois trabalharem juntos que permitiu que o instituto crescesse, na área cientifica e na produção de imunobiológicos. Ambos reconhecem que, para cumprir seu papel adequadamente, esses dois aspectos do Butantan devem caminhar juntos; de fato, ano a ano a produção científica do instituto tem crescido, assim como a produção de vacinas e soros.
Recentemente, com a fatalidade do incêndio que destruiu uma parte significativa da coleção centenária de serpentes e artrópodes, ocorreram acusações de falta de investimentos e valorização da área de pesquisa, especialmente por parte da Fundação.
Na verdade, me parece que o acidente decorre mais de tradição brasileira de não se preocupar com a preservação do seu patrimônio nacional -declarações na imprensa têm relatado que outras coleções e museus estão em situação similar.
Temos testemunhado repetidas perdas de patrimônios nacionais artísticos, históricos e científicos.
Mas a solidariedade em torno do incidente foi grande, com apoio dentro e fora da instituição, de laboratórios nacionais e internacionais, inclusive da Fundação.
Mas o saldo deste triste incidente é que toda essa movimentação levou a uma conscientização do problema, e já vemos movimentos, tanto institucionais como nacionais, visando mudar tal situação.
A animosidade se estendeu para uma parte da área básica de pesquisa. As questões principais são geradas pela falta de uma melhor compreensão das funções da Fundação e de como são investidos os seus recursos, além da falta de um canal de comunicação efetivo.
O novo sistema de gestão implantado na Fundação pode facilitar a divulgação dessas informações e possibilitar uma real discussão de prioridades.
Uma vez que o Butantan objetiva a produção de imunobiológicos a custos compatíveis com sua distribuição gratuita a toda a população pelo Ministério de Saúde, investe-se no desenvolvimento de produtos de baixo custo, e, portanto, os valores para investimento serão proporcionais. O mais importante será o fortalecimento do canal de comunicação entre o Instituto e a Fundação, entre a área de pesquisa e a área produtiva.
Esta disposição existe de ambos os lados e colegas estão se articulando para a adoção de uma agenda positiva. Sempre foi a junção de esforços desses dois lados do Butantan que permitiu que se renovasse e fizesse das crises uma oportunidade para o crescimento.


LUCIANA CEZAR DE CERQUEIRA LEITE, doutora em bioquímica pela USP, é diretora do Centro de Biotecnologia do Instituto Butantan.

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