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O MITO DA MORATÓRIA
Nada é tão grave para a confiança de uma pessoa, de uma
empresa ou de um país como o desrespeito a contratos. E nada é pior,
entre as inúmeras rupturas de contrato que afinal marcam o cotidiano
de qualquer economia ou país, que a
quebra de compromissos financeiros internacionais.
Essa lei não-escrita que vige nos
mercados globais, no entanto, é menos pétrea do que fazem crer os
apóstolos do ultraliberalismo. São
aliás os mesmos que ajudaram a
criar um autêntico terrorismo de
mercado antecipando o "desrespeito
a contratos" que seria supostamente
inevitável num governo Lula.
Um exemplo gritante de que os
preconceitos e lugares-comuns da
doutrina econômica ortodoxa não
encontram eco na realidade é o
anúncio de que a Rússia, cinco anos
após a moratória da dívida externa,
foi reclassificada pela agência
Moody's para o nível "grau de investimento", com risco mínimo.
Há fatores econômicos que justificam a decisão da agência. A começar
pelo crescimento econômico verificado a partir de 99, a melhoria da situação fiscal (com reformas vigorosas) e bons resultados nas contas externas. Conta ainda o fato de ser a
economia russa a segunda maior exportadora de petróleo do mundo.
Há também fatores de ordem geopolítica a beneficiar as perspectivas
de inserção da Rússia na ordem econômica mundial, como o seu arsenal
nuclear e seu alinhamento com os
EUA no combate ao terrorismo.
O mínimo que se pode concluir do
episódio é que a regra segundo a
qual todo país que romper contratos
financeiros externos será permanentemente excluído da ordem econômica mundial é apenas um mito.
O mito também é comprovado,
ainda que às avessas, pela experiência de países como o Brasil. A despeito de seguir ao pé da letra os contratos financeiros internacionais, o país
continua na fila para um dia merecer
das agências de risco globais uma
classificação melhor.
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