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São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 2003

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O MITO DA MORATÓRIA

Nada é tão grave para a confiança de uma pessoa, de uma empresa ou de um país como o desrespeito a contratos. E nada é pior, entre as inúmeras rupturas de contrato que afinal marcam o cotidiano de qualquer economia ou país, que a quebra de compromissos financeiros internacionais.
Essa lei não-escrita que vige nos mercados globais, no entanto, é menos pétrea do que fazem crer os apóstolos do ultraliberalismo. São aliás os mesmos que ajudaram a criar um autêntico terrorismo de mercado antecipando o "desrespeito a contratos" que seria supostamente inevitável num governo Lula.
Um exemplo gritante de que os preconceitos e lugares-comuns da doutrina econômica ortodoxa não encontram eco na realidade é o anúncio de que a Rússia, cinco anos após a moratória da dívida externa, foi reclassificada pela agência Moody's para o nível "grau de investimento", com risco mínimo.
Há fatores econômicos que justificam a decisão da agência. A começar pelo crescimento econômico verificado a partir de 99, a melhoria da situação fiscal (com reformas vigorosas) e bons resultados nas contas externas. Conta ainda o fato de ser a economia russa a segunda maior exportadora de petróleo do mundo.
Há também fatores de ordem geopolítica a beneficiar as perspectivas de inserção da Rússia na ordem econômica mundial, como o seu arsenal nuclear e seu alinhamento com os EUA no combate ao terrorismo.
O mínimo que se pode concluir do episódio é que a regra segundo a qual todo país que romper contratos financeiros externos será permanentemente excluído da ordem econômica mundial é apenas um mito.
O mito também é comprovado, ainda que às avessas, pela experiência de países como o Brasil. A despeito de seguir ao pé da letra os contratos financeiros internacionais, o país continua na fila para um dia merecer das agências de risco globais uma classificação melhor.



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