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Os EUA e o Nobel
O NÚMERO de prêmios Nobel decerto não constitui
o único indicador da qualidade da pesquisa em ciências
naturais num país. Cifras como
quantidade de artigos em periódicos indexados e total de citações a que dão origem em artigos
subseqüentes são indicadores
estatisticamente mais confiáveis, ensina a cientometria. A
láurea sueca prossegue, todavia,
como símbolo poderoso do nível
de excelência alcançado, como
atesta a hegemonia obtida pelos
EUA nas décadas recentes.
Os anúncios da última semana
só vieram confirmar tal predomínio. Todos os cinco agraciados
em 2006 são americanos que
atuam em instituições idem:
Craig Mello e Andrew Fire (Medicina ou Fisiologia), John Mather e George Smoot (Física), e
Roger Kornberg (Química).
De 513 Nobel científicos já
concedidos, seus compatriotas
abocanharam 232, pouco menos
que a metade. Foram 17 premiações em Medicina nos últimos
20 anos. Desde 1993, todos os
prêmios de Física e Química saíram para cidadãos dos EUA (com
exceção de Física em 1999).
O investimento americano em
pesquisa e desenvolvimento por
certo explica a maior parte do
flagrante distanciamento. No
ano de 2003, foram US$ 285 bilhões (pelo critério de paridade
de poder de compra), ou 2,6% do
PIB. Para comparação, no Brasil
destinaram-se em 2004 US$ 13
bilhões (0,9% do PIB), segundo
indicadores do Ministério da
Ciência e Tecnologia (MCT).
Seria ingênuo concluir que essa é a única razão para o Brasil
não dispor de um Nobel. Mais razoável é supor que tal liderança
tenha raízes no lugar destacado
que a inovação assumiu na cultura e na economia americanas.
Há no entanto sinais de justa
inquietação, na opinião pública
dos EUA, com as investidas antiliberais da administração George
W. Bush contra setores nevrálgicos de pesquisa, como células-tronco embrionárias, mudança
climática global e -"last but not
least"- biotecnologias com potencial militar. Por outro lado,
tamanha é a massa crítica acumulada por seu país nesse campo
que nem o mais antiintelectual
dos governos teria o dom de dilapidá-la em apenas oito anos.
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