São Paulo, sexta-feira, 13 de outubro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Os EUA e o Nobel

O NÚMERO de prêmios Nobel decerto não constitui o único indicador da qualidade da pesquisa em ciências naturais num país. Cifras como quantidade de artigos em periódicos indexados e total de citações a que dão origem em artigos subseqüentes são indicadores estatisticamente mais confiáveis, ensina a cientometria. A láurea sueca prossegue, todavia, como símbolo poderoso do nível de excelência alcançado, como atesta a hegemonia obtida pelos EUA nas décadas recentes.
Os anúncios da última semana só vieram confirmar tal predomínio. Todos os cinco agraciados em 2006 são americanos que atuam em instituições idem: Craig Mello e Andrew Fire (Medicina ou Fisiologia), John Mather e George Smoot (Física), e Roger Kornberg (Química).
De 513 Nobel científicos já concedidos, seus compatriotas abocanharam 232, pouco menos que a metade. Foram 17 premiações em Medicina nos últimos 20 anos. Desde 1993, todos os prêmios de Física e Química saíram para cidadãos dos EUA (com exceção de Física em 1999).
O investimento americano em pesquisa e desenvolvimento por certo explica a maior parte do flagrante distanciamento. No ano de 2003, foram US$ 285 bilhões (pelo critério de paridade de poder de compra), ou 2,6% do PIB. Para comparação, no Brasil destinaram-se em 2004 US$ 13 bilhões (0,9% do PIB), segundo indicadores do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).
Seria ingênuo concluir que essa é a única razão para o Brasil não dispor de um Nobel. Mais razoável é supor que tal liderança tenha raízes no lugar destacado que a inovação assumiu na cultura e na economia americanas.
Há no entanto sinais de justa inquietação, na opinião pública dos EUA, com as investidas antiliberais da administração George W. Bush contra setores nevrálgicos de pesquisa, como células-tronco embrionárias, mudança climática global e -"last but not least"- biotecnologias com potencial militar. Por outro lado, tamanha é a massa crítica acumulada por seu país nesse campo que nem o mais antiintelectual dos governos teria o dom de dilapidá-la em apenas oito anos.


Texto Anterior: Editoriais: Nova etapa
Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: As "organizadas"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.