São Paulo, sexta-feira, 13 de outubro de 2006

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CLÓVIS ROSSI

As "organizadas"

SÃO PAULO - A eleição deste ano tomou o jeito do futebol brasileiro: em campo, apenas as torcidas organizadas, com toda a violência, truculência e selvageria características. Uma delas chegou a tentar interferir no resultado, extracampo, ao comprar não o juiz, como acontece no futebol de verdade, mas um dossiê.
Com isso, e sempre na toada do futebol, há o risco de o resultado do campeonato ir para o "tapetão" se se descobrir que o dinheiro para o dossiê saiu dos cofres do "clube", não da "organizada" do PT.
O outro lado responde com um campanha na internet lançando boatos exatamente sobre a origem do dinheiro.
Ainda como está acontecendo no futebol, foge dos estádios a grande massa de torcedores, que nada tem a ver com a fúria das "organizadas".
Desde que meu pai me levou para votar com ele, faz uns 50 anos, jamais vi uma eleição tão descolorida, silenciosa, sem graça.
Talvez porque a diferença está apenas na cor das camisas. As regras do jogo, o formato do campo, a bola e até as táticas são muito, demasiadamente, parecidas. Tanto que a Fifa moderna desse peculiar esporte (o chamado mercado) não está nem um pouco preocupada com o resultado.
Sabe, perfeitamente, que as regras não escritas do mundo contemporâneo impedem que países periféricos tenham margem para grandes inovações táticas ou estratégicas, a menos que haja algum candidato disposto a superar a "irrelevância da política", para usar expressão do sociólogo Francisco de Oliveira. Não há.
Que a campanha só mobilize as "organizadas" é triste, mas tolerável. O problema será se o vencedor resolver também governar com os termocéfalos, os seus próprios e os emprestados.
Nessa hipótese, um país que já é atrasado e incivilizado caminhará para a "iraquezação".


crossi@uol.com.br

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