São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 2008

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TENDÊNCIAS/DEBATES

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Pingos nos is...

CELSO PITTA

Atacar outra administração é estratégia de marketing político desgastada e completamente ineficaz se o objetivo é angariar votos


MAL TERMINOU a apuração dos votos do primeiro turno para prefeito e a velha cantilena do PT de que em 2001 assumiu o governo municipal em condições caóticas volta a ser declaradamente a tônica do seu discurso para a campanha do segundo turno.
Trata-se de uma estratégia de marketing político desgastada e completamente ineficaz se o objetivo é angariar votos, pois, já testada nas eleições municipais de 2004, só contribuiu para levar a sigla para mais uma derrota em São Paulo.
Isso ocorreu, e provavelmente se repetirá, por duas razões.
Primeiro, porque carece de fundamento. Dados do Balanço Anual da Prefeitura de 2000 registram um superávit orçamentário de R$ 1,9 bilhão, que, já no primeiro mês da nova administração, produziu um saldo de caixa de R$ 504 milhões, que se elevou progressivamente nos meses seguintes até alcançar a cifra de R$ 1,1 bilhão.
E mais, a pesada e histórica dívida com a União fora renegociada com prazo de pagamento de 30 anos, juros de 6% ao ano mais correção monetária e um teto máximo de comprometimento da receita de 13% para o pagamento da amortização e dos juros.
Com isso, viabilizou-se o planejamento da cidade, livrando-a do pesado ônus financeiro e político que as administrações até então carregavam e que as obrigavam a viver de joelhos perante a União, de cuja boa vontade se dependia sempre para as autorizações semestrais de rolagem.
Tudo isso foi conseguido a duras penas, num contexto o mais adverso imaginável, com a economia estagnada -o crescimento do PIB em 1998 estava zerado, e o de 1999 foi de 0,3%- e com um quadro político de oposição do governo federal que não liberava financiamentos contratados e, inclusive, cortava as verbas para a saúde do SUS, cerca de R$ 400 milhões por ano, sob a alegação de que o sistema de cooperativas e parcerias adotado pela municipalidade e recentemente reintroduzido não se enquadrava nas suas normas.
Hoje, se existe debate sobre quantos quilômetros de corredores de ônibus serão implantados, quantos hospitais serão construídos ou, ainda, de quanto será o cheque que a prefeitura vai emitir para o Metrô, é porque há dinheiro. Se esse dinheiro existe, é porque lá atrás foi feito um imenso trabalho de saneamento financeiro a um custo político altíssimo, é verdade, mas que desde então vem beneficiando as administrações que sucederam a minha.
Em segundo lugar, a estratégia de atacar outra administração, na tentativa de justificar a própria inoperância, desagrada ao eleitor que não está interessado no passado, mas, sim, na solução dos problemas da cidade.
Os ataques se tornam, ainda, bizarros quando sua tônica passa a ser o comportamento ético e a existência de denúncias de corrupção, pois partem de quem está na "lista suja" da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros) e omitem a informação de que 21 ações públicas e de improbidade movidas contra a minha administração foram arquivadas ou extintas. As poucas que não tiveram esse encaminhamento estão em andamento ou em fase de recurso.
Entretanto, defendo ser sempre saudável a comparação entre duas administrações, mesmo se uma, ao contrário da outra, teve o total apoio do governo federal, que liberou financiamentos do BNDES para o término do Fura-Fila e novos corredores de transporte, além do aval da União para financiamento do BID para o projeto de revitalização do centro, ambos firmados na minha gestão por ocasião da negociação da dívida.
Mas, nesse sentido, a revista "Veja São Paulo", edição de 20/10/04, publicou uma avaliação das duas administrações. Agora, surpreendam-se com o resultado: das 17 áreas pesquisadas, a gestão Pitta saiu-se melhor ou igual em 11 delas, com destaque para contas públicas, funcionalismo público, gastos com publicidade, impostos, lixo, poluição visual e trânsito. Como se vê, já passou da hora de colocar os pingos nos is...

CELSO PITTA é economista e ex-prefeito de São Paulo (1997-2000). Foi secretário das Finanças do município de São Paulo (gestão Paulo Maluf).



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