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RUY CASTRO
Ao mestre, com desprezo
RIO DE JANEIRO - Em março,
um professor de história, filho de
um amigo meu, foi desacatado em
sala por três alunos num colégio em
Moema, zona sul de São Paulo. O
mestre deu queixa na diretoria. Esta apoiou os desordeiros. O professor pediu demissão e foi para casa,
onde teve uma crise nervosa. Passa
agora por uma síndrome do pânico.
A orientadora da escola, única pessoa a apoiá-lo, foi demitida.
Este é um colégio de classe média, em que os alunos se sentem
com privilégios pelo fato de pagar
altas mensalidades. Mas, nas escolas públicas, a realidade é ainda
pior. Mais de cem casos de alunos
que desrespeitam professores são
relatados diariamente à Secretaria
Estadual da Educação de São Paulo
por um sistema de registro de ocorrências do gênero. A maioria dos casos vem da região metropolitana de
São Paulo.
São alunos que desprezam a liturgia da escola, saem da sala sem autorização do professor e o ofendem
verbalmente quando ele ousa protestar contra a zorra. Usam toda espécie de aparelho eletrônico durante a aula, de celular a iPod, e, certos
da impunidade, destroem equipamentos ou instalações da escola na
frente dos colegas e funcionários.
Uma das principais diversões é pôr
fogo nas lixeiras.
É o terror. As escolas cogitam instalar câmeras em suas dependências, para ter provas documentais
contra os vândalos e padronizar as
informações, o que permitirá estabelecer estratégias de combate à
violência. Mas nada impede que os
cafajestes -difícil chamá-los de
alunos- roubem também as câmeras e riam das estratégias.
Os jovens valentões que agrediram o professor em Moema (aliás,
com o apoio da classe) foram expulsos do colégio meses depois. Mas
não por indisciplina. Deixaram-se
apanhar traficando drogas dentro
das instalações.
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