São Paulo, quinta, 13 de novembro de 1997.



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PACOTE DE ANSIEDADE

Depois de administrado um remédio forte, o momento crítico é aquele em que se espera a reação do paciente. A economia encontra-se agora nesse estado. O remédio foi o brutal aumento dos juros, seguido de um pacote para cobrir o buraco criado pelas altas taxas nas contas do governo. As reações dos mercados têm sido frustrantes, como revelam a queda e a consequente suspensão do pregão na Bolsa de São Paulo.
Os especialistas, entretanto, estão divididos. Os mais otimistas preferem não estabelecer uma relação direta de causa e efeito entre as medidas de política econômica e a queda de ontem nas Bolsas e a pressão no dólar. Segundo essa hipótese, o Brasil sofre os efeitos de uma turbulência global, irrestrita e insaciável.
Vigore ou não tal causalidade, o fato é que o paciente talvez precise de mais oxigênio, de providências e "sinalizações" de política econômica que eventualmente possam fazer mais efeito e reduzir as angústias desse difícil período de ajuste.
Infelizmente, as lideranças parlamentares e o próprio Executivo envolveram-se, após o anúncio das medidas, em escaramuças sobre o varejo, sobre o detalhe, sem atentar devidamente para a gravidade do momento. Atribuem-se a missão de negociarem interesses menores e disputam os holofotes como campeões do "amaciamento" do pacote.
Onde está o governo que se empenhou e afinal encontrou base política suficiente para aprovar o direito à reeleição? Onde estão as lideranças que tantas vezes subiram à tribuna para reclamarem para si próprios e para o Congresso um papel maior na condução dos destinos do país?
Estas são as questões, políticas, dirigidas ao Executivo e ao Congresso pela sociedade e investidores perplexos e por trabalhadores ameaçados, que esperam medidas e atitudes que estejam à altura dos acontecimentos.



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