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AMÉRICAS DESUNIDAS
Ficou escondido entre notícias de
"crashes" e de crises o naufrágio,
no Congresso dos EUA, do "fast
track", um tipo de carta branca para
o presidente norte-americano negociar acordos comerciais; os parlamentares podem depois aprová-los
ou não, mas só na íntegra. Sem tal
autorização, Bill Clinton perde força
na sua tentativa de liberalizar e integrar o comércio nas Américas. Isto é,
fica em xeque a formação da Área de
Livre Comércio das Américas (Alca).
Para o Brasil, a consequência mais
imediata é a provável frustração do
prazo de 2005 para a implementação
da Alca. Esse, aliás, era o desejo do
governo brasileiro, temeroso de aumentar a abertura antes de a economia ser competitiva o bastante.
A resistência ao "fast track", entretanto, revela quão profunda se tornou mesmo nos EUA a aversão aos
projetos de integração. Em parte, esse sentimento vem do temor de perda
de empregos para países pobres.
Mas pesa também a experiência com
o México. Mesmo depois de integrado ao mercado da maior potência
mundial, o país foi acossado por
uma grave crise. O resgate foi bancado pelos contribuintes dos EUA.
Embora para o governo brasileiro a
derrota de Clinton seja até um alívio,
é importante notar que nas atuais circunstâncias não é bom que a liberalização comercial perca prestígio. Basta lembrar que nos anos 30, depois
da brutal crise de 29, o protecionismo ganhou força, com os resultados
que se conhece, inclusive no plano da
segurança internacional.
O Mercosul já está subindo tarifas
para compensar a imprudência financeira dos modelos de estabilização adotados por seus governos. A
Europa quer tirar proveito do vácuo
criado pela ausência do "fast track"
negociando seus próprios acordos
com o Mercosul. Nesse contexto, todo cuidado é pouco. A história mostra que nada é mais fácil do que acreditar no regionalismo protecionista
como solução para todos os males.
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