São Paulo, quinta, 13 de novembro de 1997.



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AMÉRICAS DESUNIDAS

Ficou escondido entre notícias de "crashes" e de crises o naufrágio, no Congresso dos EUA, do "fast track", um tipo de carta branca para o presidente norte-americano negociar acordos comerciais; os parlamentares podem depois aprová-los ou não, mas só na íntegra. Sem tal autorização, Bill Clinton perde força na sua tentativa de liberalizar e integrar o comércio nas Américas. Isto é, fica em xeque a formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca).
Para o Brasil, a consequência mais imediata é a provável frustração do prazo de 2005 para a implementação da Alca. Esse, aliás, era o desejo do governo brasileiro, temeroso de aumentar a abertura antes de a economia ser competitiva o bastante.
A resistência ao "fast track", entretanto, revela quão profunda se tornou mesmo nos EUA a aversão aos projetos de integração. Em parte, esse sentimento vem do temor de perda de empregos para países pobres. Mas pesa também a experiência com o México. Mesmo depois de integrado ao mercado da maior potência mundial, o país foi acossado por uma grave crise. O resgate foi bancado pelos contribuintes dos EUA.
Embora para o governo brasileiro a derrota de Clinton seja até um alívio, é importante notar que nas atuais circunstâncias não é bom que a liberalização comercial perca prestígio. Basta lembrar que nos anos 30, depois da brutal crise de 29, o protecionismo ganhou força, com os resultados que se conhece, inclusive no plano da segurança internacional.
O Mercosul já está subindo tarifas para compensar a imprudência financeira dos modelos de estabilização adotados por seus governos. A Europa quer tirar proveito do vácuo criado pela ausência do "fast track" negociando seus próprios acordos com o Mercosul. Nesse contexto, todo cuidado é pouco. A história mostra que nada é mais fácil do que acreditar no regionalismo protecionista como solução para todos os males.



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