São Paulo, quinta-feira, 13 de novembro de 2008

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ELIANE CANTANHÊDE

Gato por lebre

BRASÍLIA - Numa solenidade para assinatura de contratos do PAC no Planalto, em 24 de junho, com Lula e Dilma Rousseff, dois aliados do governo foram destacados para falar em nome dos 27 governadores e dos milhares de prefeitos do país: o governador da Bahia, Jaques Wagner, do PT, e o prefeito de Manaus, Serafim Corrêa, do PSB.
Quatro meses depois, foram encerradas as eleições municipais, nas quais os dois grandes vitoriosos foram os governadores e os prefeitos candidatos à reeleição. Mas Jaques e Serafim andaram na contramão.
Jaques perdeu em Salvador, e Serafim foi o único candidato à reeleição nas capitais a dar com os burros n'água. Não foi por acaso. Na Bahia, Jaques vinha de uma espetacular e inesperada vitória para o governo em 2006 e se sentiu forte o suficiente para patrocinar um candidato próprio do PT contra o prefeito João Henrique, do PMDB. Trombou de frente com o trator Geddel Vieira Lima e perdeu.
Em Manaus, o PT e o PC do B passaram três anos aboletados na prefeitura, mas na eleição abandonaram o prefeito no sereno. O PT lançou um nome próprio, e o PC do B apoiou o candidato do governador Eduardo Braga. Os dois perderam já no primeiro turno e enfraqueceram Serafim para o segundo. Isolaram Serafim, o aliado, e deram a vitória a Amazonino Mendes (PTB), o verdadeiro adversário.
Cumpre-se assim o que Zé Dirceu diz e tenta curar há muitos anos: a arrogância petista de considerar aliança o que é a favor dele, não o que é a favor do outro. E isso deixa mágoas, carimbos e muitas vezes, como nos casos de Salvador e de Manaus, doídas derrotas.
A mágoa não é só contra o PT, mas contra o próprio Lula, que lavou as mãos, tirou foto com os adversários e ajudou a empurrar Serafim para o precipício. E também não é só de Serafim, mas do PSB -um dos partidos mais afinados com o governo nessa base aliada que é um saco de gatos, e de gatos direitistas.

elianec@uol.com.br


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