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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Os iluminados
SÃO PAULO - Quase 60 milhões
de pessoas ficaram no escuro. O
país era um breu só, mas a mente
iluminada de Tarso Genro viu uma
maneira de dizer que tudo não passou de "um microincidente dentro
de conquistas extraordinárias durante sete anos na produção de
energia". A cabeça do vaga-lume da
Justiça funciona assim: apaga
quando acende e vice-versa.
Devemos contabilizar entre as
"conquistas extraordinárias" o fato
de termos à frente do Ministério de
Minas e Energia alguém como Edison Lobão? Já escrevi e repito: as
afinidades do afilhado de Sarney
com o setor elétrico se limitam ao
prenome. Ele é homônimo de Thomas, o inventor da lâmpada.
Sem ciência na área, nosso Edison primeiro rogou a Deus para que
o episódio não se repita. Ontem,
pautado pelos camaradas, disse que
este era assunto "superado" no governo. E assim fica. Diante da falta
de explicações plausíveis, o Planalto acionou sua rede de transmissão
da autossuficiência autoritária.
Na véspera do "microincidente",
Dilma Rousseff dizia: "Nosso governo dá de 400 a 0 no anterior".
Quanto estaria hoje o placar? Depois de submergir, a ex-ministra de
Minas e Energia de Lula ontem
também limitou-se a "encerrar o
caso". Devemos agora pensar que o
povo não precisa mais dos "formadores de opinião" porque aprendeu
a ficar no escuro sozinho?
Para livrar a cara de sua candidata, o PT no Senado jogava anteontem a responsabilidade nas costas
do PMDB, dono da área. Este, por
sua vez, cobrava "satisfação cabal"
do governo. A pantomima política
lembra a crise dos anos FHC, quando os tucanos tentavam depositar
seu apagão na conta do PFL.
Em 2001, no tempo das velas românticas do tucanato, houve um
longo racionamento; hoje não falta
energia. Mas é sintomático, nos
dois casos, que o país esteja entregue à mesma "bancada do apagão".
As subestações da fisiologia seguem
operando. O que está muito em falta, além da luz eventual, é consideração pela opinião pública.
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