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FERNANDO GABEIRA
Esperança em azul
RIO DE JANEIRO - O petróleo
dominou parte da imaginação nacional. Prefeitos do interior, comunidades indígenas, todos querem
saber o quanto vão levar das fabulosas riquezas do pré-sal.
O meio ambiente ganhou 3% dos
royalties. É pouco. Queria também
3% de atenção para o oceano. Sua
decadência é inequívoca. Amigos
que trabalham com tartarugas
constatam, nas autópsias, que o estômago delas está cheio de plástico.
Sem mencionar os litorais, de onde
se tira de tudo do fundo do mar: geladeiras, fogões e aparelhos de TV.
Domingo visitei o museu e o Instituto de Altos Estudos do Mar. Fica
em Arraial do Cabo. É impressionante como as crianças reagem fascinadas diante dos métodos computadorizados de ensinar os fenômenos e a vida no oceano.
Para um país que pretende arrancar riqueza do mar, tanto o museu
como o instituto ainda são modestos. Quem associou o azul do mar ao
futuro foi, principalmente, o almirante Paulo Moreira. Ainda não temos nem uma biografia dele.
Sua história, no entanto, enfatiza
as riquezas do mar e o caminho para alcançá-las: o conhecimento.
Agora que superamos a etapa de dividir o dinheiro do pré-sal, para
quase todos o trabalho acabou. Começa para alguns de nós uma nova e
importante tarefa. Convencer um
país que retira suas riquezas do fundo mar a passar a gostar dele.
Quando nos acusam de destruir a
floresta, alguns dizem: a Amazônia
é nossa. No oceano, o problema é
mais embaixo. Estamos tentando,
como fez a Noruega, ampliar nossa
plataforma continental junto a
ONU. O oceano não é nosso. Ampliar o domínio implica em responsabilidade.
Em Minas Gerais, surgiu um cartaz dizendo: olhem bem as montanhas. Algumas desapareceram. No
momento de euforia petroleira,
olhem bem o oceano, antes de ser
transfigurado.
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