São Paulo, sexta, 13 de novembro de 1998

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AS DUAS FACES DA ONU

Voltam a se avolumar indícios de que os EUA estão prontos para bombardear o Iraque, ainda como sequela da Guerra do Golfo, de quase oito anos atrás. O Iraque aceitou uma série de condições impostas pelos vencedores, entre elas a de permitir inspeções em seu território, para verificar se o país não estaria desenvolvendo armas químicas e biológicas.
De tempos em tempos, o governo iraquiano cria obstáculos à ação dos inspetores, o que leva à ameaças de retaliação, até que Sadam Hussein volta atrás. Dessa vez, no entanto, mais que obstáculos, o governo iraquiano parece ter impedido o trabalho dos inspetores da ONU, o que fornece o motivo para o ataque.
É impossível defender o governo iraquiano, tal o número de violações aos direitos humanos em grande escala, o caráter ditatorial do regime e o fato de o país já ter usado armas químicas (na guerra com o Irã e também contra os curdos, etnia que vive também em território iraquiano).
Mas tampouco é fácil entender os motivos pelos quais a ONU atua com relativa presteza em certos casos (como na montagem da máquina militar prestes a atacar o Iraque), mas age com enorme lentidão em outros episódios -ou, pior, não age.
No caso do Kosovo, território iugoslavo habitado por uma maioria albanesa, são igualmente flagrantes as violações a regras elementares de civilização cometidas pelo governo de Slobodan Milosevic. A ONU ameaça, ameaça, mas nada faz.
Vale o mesmo para o desrespeito à resoluções da ONU sobre os territórios árabes ocupados por Israel depois de sucessivas guerras. Nesse último caso, divergências de natureza semântica levam à paralisia da ONU em relação a decisões suas que já são velhas de décadas. Existem argumentos legais para basear um eventual ataque ao Iraque. Mas conviria que as relações internacionais obedecessem a uma relativa isonomia.



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