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AS DUAS FACES DA ONU
Voltam a se avolumar indícios de
que os EUA estão prontos para bombardear o Iraque, ainda como sequela da Guerra do Golfo, de quase oito
anos atrás. O Iraque aceitou uma série de condições impostas pelos vencedores, entre elas a de permitir inspeções em seu território, para verificar se o país não estaria desenvolvendo armas químicas e biológicas.
De tempos em tempos, o governo
iraquiano cria obstáculos à ação dos
inspetores, o que leva à ameaças de
retaliação, até que Sadam Hussein
volta atrás. Dessa vez, no entanto,
mais que obstáculos, o governo iraquiano parece ter impedido o trabalho dos inspetores da ONU, o que
fornece o motivo para o ataque.
É impossível defender o governo
iraquiano, tal o número de violações
aos direitos humanos em grande escala, o caráter ditatorial do regime e o
fato de o país já ter usado armas químicas (na guerra com o Irã e também
contra os curdos, etnia que vive também em território iraquiano).
Mas tampouco é fácil entender os
motivos pelos quais a ONU atua com
relativa presteza em certos casos (como na montagem da máquina militar
prestes a atacar o Iraque), mas age
com enorme lentidão em outros episódios -ou, pior, não age.
No caso do Kosovo, território iugoslavo habitado por uma maioria
albanesa, são igualmente flagrantes
as violações a regras elementares de
civilização cometidas pelo governo
de Slobodan Milosevic. A ONU
ameaça, ameaça, mas nada faz.
Vale o mesmo para o desrespeito à
resoluções da ONU sobre os territórios árabes ocupados por Israel depois de sucessivas guerras. Nesse último caso, divergências de natureza
semântica levam à paralisia da ONU
em relação a decisões suas que já são
velhas de décadas. Existem argumentos legais para basear um eventual
ataque ao Iraque. Mas conviria que as
relações internacionais obedecessem
a uma relativa isonomia.
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