São Paulo, sexta-feira, 13 de dezembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SURPRESA NO ABC

Surpreendeu o desfecho da Comissão Parlamentar de Inquérito instalada na Câmara Municipal de Santo André para apurar um suposto esquema de propina no transporte público da cidade. Mas a surpresa foi negativa. Era previsível que os membros da CPI -todos vereadores governistas- acabariam por inocentar a administração petista da cidade das acusações. Porém o que parece "inovador" nas conclusões dessa comissão é uma curiosa inversão: testemunhas que afirmaram que existia na cidade um esquema ilegal de recolhimento de dinheiro de concessionários de transporte foram transformados pelos integrantes da CPI em suspeitas.
A suposta rede de arrecadação de propina é investigada pelo Ministério Público do Estado de São Paulo. O promotor Amaro Thomé Filho, um dos integrantes da investigação, qualificou como absurdo o desfecho da CPI. Seu colega José Reinaldo Carneiro apontou inequívoca contradição dos vereadores: deixaram de considerar a maior parte do depoimento do empresário Luiz Alberto Gabrilli Filho -que disse que pagava ao suposto esquema da prefeitura R$ 40 mil mensais-, mas levaram em consideração, contra o próprio empresário, o trecho em que o depoente sugere ter fraudado uma licitação. Dois pesos, duas medidas.
Gabrilli, vale lembrar, relatou em entrevista a esta Folha uma reunião, na Secretaria de Serviços Municipais de Santo André, em que teria sido acertada uma "taxa" de propina de R$ 550 por ônibus.
Além do conteúdo local das denúncias, esse caso do ABC também contém um aspecto político nacional. Segundo o irmão de Celso Daniel -prefeito de Santo André assassinado no início deste ano-, haveria uma ligação entre esse suposto esquema de propina e o financiamento de campanhas do PT.
São acusações graves cujas esperanças de elucidação, depois do fim "surpreendente" da CPI, estão todas depositadas na Justiça.


Texto Anterior: Editoriais: MEIRELLES E OS JUROS
Próximo Texto: Editoriais: LIBERDADE VIRTUAL

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.