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CARLOS HEITOR CONY
Cabloco Ventania
RIO DE JANEIRO - Deus, aliás, todos os deuses existentes ou que já existiram, são testemunhas de meu respeito por todas as crenças e ritos. Politicamente incorreto em tudo, pelo menos sou correto politicamente nesse
quesito, que, ao longo da história,
tem provocado guerras e ódios.
Mesmo assim, estranhei quando,
nesta semana, viajando de Curitiba
para o Rio, no momento em que o
avião decolava, um sujeito atrás de
mim gritou: "Caboclo Ventania nos
proteja e salve!". Confesso que não
gostei, embora nada tenha contra o
referido caboclo, que até aquele instante eu nem sabia existir.
Como quase todo mundo aqui no
Ocidente, fui educado num contexto
cristão, conheço de nome e devoção
alguns santos, pessoalmente sou devoto de santo Antônio, de são José, do
meu anjo da guarda, de todas as Nossas Senhoras, sendo afilhado de uma
delas, como o ACM é afilhado do Senhor do Bonfim.
Além disso, ainda no contexto ocidental, é comum a imprecação em
diversos idiomas, God, Jesus (em inglês mesmo), sem contar o popular
"minha nossa", que crentes e ateus
usam para exprimir admiração ou
espanto diante de qualquer coisa.
Essa do caboclo Ventania pegou-me desprevenido, para não dizer ignorante integral em matéria de caboclos que possam proteger-me. Mesmo
assim, para ser justo, e tendo a viagem chegado ao término em boas
condições, apenas com o atraso a que
já estou habituado, folguei com a
proteção que não pedi, mas me foi
oferecida pelo companheiro de vôo.
Tomarei informações a respeito
desse simpático caboclo que me protegeu compulsoriamente e, em caso
de precisão, talvez venha a apelar para ele, mesmo sem saber de quem se
trata e muito menos como tratá-lo.
Disse acima que fui educado no contexto cristão ocidental, mas nunca se
sabe.
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