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FERNANDO RODRIGUES
Agora, o "bolsa esporte"
BRASÍLIA - Os telejornais e a mídia em geral de repente ficaram forrados de imagens de senhores e senhoras com faces conhecidas, mas
agora sem maquiagem e com as
marcas do tempo mais à vista. São
atores e atrizes. Querem garantir o
fluxo de dinheiro público para suas
produções, sem reparti-lo com a
área esportiva.
Nas fotos, do outro lado da mesa,
aparecem atletas. Eles também estão ávidos pela criação do "bolsa esporte". Empresas poderão dar dinheiro para certas atividades ligadas ao esporte e abater um naco do
que pagariam de imposto.
Quem paga essa gastança? Todos
os brasileiros. O dinheiro de impostos deixa de ser recolhido. Entra
sem escalas no bolso de empresários culturais ou esportivos.
Esse lobby explícito de artistas e
atletas é a expressão mais completa
e acabada de uma doença da sociedade brasileira: a incapacidade
atroz de vários setores de prosperar
sem uma muleta estatal. Não que o
Estado não devesse incentivar a
cultura e o esporte. Mas, em condições normais de temperatura e
pressão, esse tipo de auxílio deveria
ser algo extra. Por exemplo, para
produções comercialmente inviáveis, mas úteis para a coletividade.
Aqui, muitos filmes ordinários e peças de teatro idem não existiriam
sem o selo de algumas empresas estatais ou de dinheiro captado com
renúncia fiscal.
Esse estado mental de acomodação abúlica produz o "bolsa cultura"
e o "bolsa esporte". É um enigma a
ser desvendado por algum governante com interesse real em "destravar" a economia.
Não há indícios de preocupação
com essa anomalia no governo Lula. O ministro Gilberto Gil (Cultura) defende seus artistas. Seu colega
Orlando Silva (Esportes) vai além.
Propõe "expandir" a renúncia fiscal. E os brasileiros, que na sua
maioria não são artistas nem atletas, vão pagando a conta.
frodriguesbsb@uol.com.br
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