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CARLOS HEITOR CONY
Presidente bombeiro
RIO DE JANEIRO - Para explicar
e justificar a sua posição política e
ideológica de hoje, o presidente Lula referiu-se à idade, que ainda não
é muita, dizendo que uma pessoa
velha que insiste em ser da esquerda deve ter problemas, do mesmo
modo que um jovem direitista deve
ser problemático.
Está na cara que ele tomou a si
mesmo como referencial desta frase com um bafio acaciano, que lembra o professor Fernando Henrique
Cardoso, useiro e vezeiro em repetir as retumbantes obviedades do
conselheiro Acácio.
Desde os tempos da Revolução
Francesa, quando se criou o conceito de esquerda e direita, sabe-se
que, na juventude, o homem tende
a ser incendiário e, na idade madura, prefere ser bombeiro. Para o cidadão comum, uma e outra posição
têm uma retórica própria e inofensiva. Para um político profissional,
revela mudança de camisa ideológica e, em alguns casos, moral e ética.
O próprio Lula se enquadra num
e noutro caso: incendiário na mocidade, bombeiro na maturidade.
Ainda bem. Que seria de nós se nosso presidente fosse incendiário? Já
temos problemas e aflições suficientes com o presidente que tenta
apagar incêndios que ele gostaria de
ter provocado quando era sindicalista e político de oposição.
Da mesma forma que FHC se diz
social-democrata, repelindo o neoliberalismo que marcou o seu governo, Lula se declara centro-esquerda, um escalão oportunista do
espectro político. Sabemos que o
centro é como aquela anedota do
português que comprou o relógio
que lhe foi vendido como sendo de
ouro. Um amigo negou que fosse de
ouro. Ao ser perguntado por um outro amigo se o relógio era de ouro,
ele disse que às vezes era e às vezes
não era. O centro é uma posição cômoda de quem é uma coisa ou outra
de acordo com as circunstâncias e
os interesses pessoais.
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