São Paulo, sábado, 13 de dezembro de 2008

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VAGUINALDO MARINHEIRO

Crise e novíssima ordem mundial

DURANTE muitos anos, intelectuais previram o declínio do império norte-americano. Alguns apostavam na China como a nova potência a desbancar os EUA da função de ditar as normas para o mundo político, econômico e cultural. Agora, o consenso gira em torno de outra tese: o mundo será multipolar.
É nessa linha que se encaixa o recém-lançado "O Mundo Pós-Americano" (Companhia das Letras, 312 páginas, R$ 49), de Fareed Zakaria. Segundo o autor, estamos passando por uma nova "mudança de poder tectônica" que irá criar uma novíssima ordem mundial.
Esqueça o declínio do império americano. Os EUA continuarão a ser por muito tempo a maior economia mundial e a única potência militar, mas ocorrerá a "ascensão do resto", que inclui China, Índia, Brasil e outros emergentes.
O livro foi escrito antes do agravamento da crise mundial, quando alguns ainda acreditavam na tese do descolamento -a crise nos países ricos, diziam, não afetaria substancialmente os emergentes.
Isso caiu por terra. A China já acusou o golpe com redução acentuada nas exportações, a Índia vai pelo mesmo caminho e o Brasil cria pacotes para evitar uma queda grande do PIB no último trimestre do ano e no início de 2009.
Mas será o suficiente para invalidar os argumentos de Zakaria? Não. Pode, sim, adiar um pouco o processo.
Previsões são sempre arriscadas, mas o mais provável é que Brasil, China e Índia continuem a crescer mais que o resto do mundo quando as coisas se normalizarem. Continuarão também a agregar mais e mais pessoas à massa de consumidores e a representar um peso cada vez maior no mercado global.
Como efeito, europeus e norte-americanos terão de rever parte da sua arrogância e de aceitar novos membros nos mecanismos de regulação internacional.
Como escreve Zakaria (um indiano radicado nos EUA que é colunista da "Newsweek" e editor da edição internacional da revista), esses mecanismos estão anacrônicos: o Conselho de Segurança da ONU é composto pelos vitoriosos de uma guerra que acabou há 60 anos; o G8 -que, nominalmente, inclui as sete maiores economias do mundo mais a Rússia- despreza a China, a quarta maior economia do planeta; e um acordo garante sempre a um europeu a presidência do FMI e a um norte-americano o comando do Banco Mundial. Isso ainda faz algum sentido?
Outra boa conseqüência desse novo mundo, afirma Zakaria, será a redução do antiamericanismo, que chegou a níveis inimagináveis nos anos Bush. "O mundo está mudando da raiva para a indiferença, do antiamericanismo para o pós-americanismo", escreve.
Será otimismo demais? Talvez, mas que bom que assim seja neste tempo repleto de pessimismo.


VAGUINALDO MARINHEIRO é secretário de Redação.


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