São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 2007

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Por um clima melhor

Europa caminha para adotar medidas contra o aquecimento global que vão além de Kyoto, um exemplo para o Brasil

A EUROPA mais uma vez ocupa a proa do debate internacional sobre a mudança climática e a inegável participação humana no aquecimento global. Arrancando no que já se chama de revolução pós-industrial, a Comissão Européia comunicou o compromisso voluntário de cortar, até 2020, no mínimo 20% sobre os níveis de 1990 as suas emissões de gases que provocam o efeito estufa, o aquecimento anormal da atmosfera.
É sem dúvida um avanço considerável sobre o Protocolo de Kyoto (o acordo internacional para tentar reduzir o efeito estufa). Mesmo não se cumprindo sua meta modesta de reduzir em 5,2% as emissões dos países ricos, o tratado expira em 2012. Houve redução de somente 3,3% de 1990 a 2004 no mundo desenvolvido, a maior parte resultante da crise no Leste Europeu.
Sem compromisso nenhum dos EUA, registre-se, responsável pela maior parcela de dióxido de carbono (CO2) lançado na atmosfera (quase 40% das emissões das nações industrializadas). Há sinais de progresso, porém: governos estaduais caminham para criar metas próprias de contenção, como a proposta similar à européia do governador republicano da Califórnia, Arnold Schwarzenegger.
Os europeus almejam o que vai se impondo como consenso: impedir que o aquecimento ultrapasse 2C além da temperatura nos tempos pré-industriais. Estima-se que, acima disso, o sistema do clima mundial enfrente perturbações enormes e irreversíveis. Para alcançar tal objetivo, a redução teria de alcançar 30%. A Comissão só se dispõe a adotar essa meta se for assumida por todos os países ricos.
A comunicação européia assinala ainda que nem mesmo um tal acordo pós-Kyoto -improvável diante da renitência americana- será suficiente. Após 2020, os cortes teriam de prosseguir e beirar 50% em 2050. Objetivo inatingível sem dois passos que afetam diretamente o Brasil: aceitação de metas de redução de CO2 por nações em desenvolvimento e contenção do desmatamento tropical.
As projeções indicam que países pobres ultrapassarão os ricos em emissões por volta de 2030. Chineses emitirão mais que americanos em torno de 2010, e os EUA antepõem como condição que também os asiáticos assumam compromissos.
A Europa parece mais inclinada a respeitar o princípio da responsabilidade comum, mas diferenciada, adotado na Eco-92: propõe que os mais pobres reduzam taxas de crescimento de emissões até 2020 e iniciem cortes absolutos depois disso. E ressalva que há opções disponíveis -os mecanismos de desenvolvimento limpo de Kyoto- para que trilhem tal caminho com ganhos socioeconômicos.
Para o Brasil, residem aí inúmeras oportunidades, e não só com a exportação de biocombustíveis. Engajando-se na proposta européia de zerar o desmatamento em duas décadas, poderia receber créditos por manter na floresta o carbono que terminaria na atmosfera. Não são muitos os países que têm chance tanto de fazer a coisa certa quanto de lucrar com isso. Cabe aproveitá-la, reforçando o contingente de nações prontas a liderar e a agir.


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