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Por um clima melhor
Europa caminha para adotar medidas contra o aquecimento global que vão além de Kyoto, um exemplo para o Brasil
A EUROPA mais uma vez
ocupa a proa do debate
internacional sobre a
mudança climática e a
inegável participação humana
no aquecimento global. Arrancando no que já se chama de revolução pós-industrial, a Comissão Européia comunicou o compromisso voluntário de cortar,
até 2020, no mínimo 20% sobre
os níveis de 1990 as suas emissões de gases que provocam o
efeito estufa, o aquecimento
anormal da atmosfera.
É sem dúvida um avanço considerável sobre o Protocolo de
Kyoto (o acordo internacional
para tentar reduzir o efeito estufa). Mesmo não se cumprindo
sua meta modesta de reduzir em
5,2% as emissões dos países ricos, o tratado expira em 2012.
Houve redução de somente 3,3%
de 1990 a 2004 no mundo desenvolvido, a maior parte resultante
da crise no Leste Europeu.
Sem compromisso nenhum
dos EUA, registre-se, responsável pela maior parcela de dióxido
de carbono (CO2) lançado na atmosfera (quase 40% das emissões das nações industrializadas). Há sinais de progresso, porém: governos estaduais caminham para criar metas próprias
de contenção, como a proposta
similar à européia do governador republicano da Califórnia,
Arnold Schwarzenegger.
Os europeus almejam o que vai
se impondo como consenso: impedir que o aquecimento ultrapasse 2C além da temperatura
nos tempos pré-industriais. Estima-se que, acima disso, o sistema do clima mundial enfrente
perturbações enormes e irreversíveis. Para alcançar tal objetivo,
a redução teria de alcançar 30%.
A Comissão só se dispõe a adotar
essa meta se for assumida por
todos os países ricos.
A comunicação européia assinala ainda que nem mesmo um
tal acordo pós-Kyoto -improvável diante da renitência americana- será suficiente. Após 2020,
os cortes teriam de prosseguir e
beirar 50% em 2050. Objetivo
inatingível sem dois passos que
afetam diretamente o Brasil:
aceitação de metas de redução
de CO2 por nações em desenvolvimento e contenção do desmatamento tropical.
As projeções indicam que países pobres ultrapassarão os ricos
em emissões por volta de 2030.
Chineses emitirão mais que
americanos em torno de 2010, e
os EUA antepõem como condição que também os asiáticos assumam compromissos.
A Europa parece mais inclinada a respeitar o princípio da responsabilidade comum, mas diferenciada, adotado na Eco-92:
propõe que os mais pobres reduzam taxas de crescimento de
emissões até 2020 e iniciem cortes absolutos depois disso. E ressalva que há opções disponíveis
-os mecanismos de desenvolvimento limpo de Kyoto- para
que trilhem tal caminho com ganhos socioeconômicos.
Para o Brasil, residem aí inúmeras oportunidades, e não só
com a exportação de biocombustíveis. Engajando-se na proposta
européia de zerar o desmatamento em duas décadas, poderia
receber créditos por manter na
floresta o carbono que terminaria na atmosfera. Não são muitos
os países que têm chance tanto
de fazer a coisa certa quanto de
lucrar com isso. Cabe aproveitá-la, reforçando o contingente de
nações prontas a liderar e a agir.
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