|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Realidades de China e Brasil
COMO COMPETIR com a China? Até o momento estamos
em desvantagem. É verdade
que o Brasil mantém um superávit
da ordem de US$ 1,8 bilhão no comércio com o gigante asiático. Mas
o grosso desse superávit vem da soja e do minério de ferro. Nos produtos industrializados, a situação
se inverte. Há 46 produtos brasileiros, em especial siderúrgicos, óleos
vegetais e carnes, que penetram
mal no mercado chinês, apesar de
serem bem aceitos no resto do
mundo. Outros 58 produtos, também mundialmente valorizados,
têm enorme dificuldade para entrar na China -como metalurgia
de não-ferrosos, móveis e até produtos da agropecuária ("O dragão
atrai e assusta", "Indústria Brasileira", CNI, novembro de 2005). O
Brasil não vende para a China; é a
China que compra do Brasil.
As autoridades brasileiras costumam atribuir às empresas a baixa
agressividade no mercado chinês.
É uma meia verdade. De fato, chegar na China exige denodo, conhecimento da cultura, agilidade e competência. Mas isso só pode ser
alcançado se os produtores brasileiros contarem com uma melhor
infra-estrutura, uma boa base logística e educação de qualidade, assim como uma redução dessa obscena carga tributária.
Temos, sim, condições de competir com a China. Mas isso não
acontecerá por milagre. Precisamos dar muitos saltos para vencer
os entraves que encarecem o nosso
produto, restringem a variedade e
comprometem a qualidade. É uma
luta de dez ou 15 anos.
Mas a China não estará mais longe quando chegarmos lá? É claro
que os chineses não vão parar nem
esperar que a competitividade do
Brasil se eleve a ponto de deslocar
seus produtos dos mercados internacionais. Mas eles também têm
seus problemas. A mão-de-obra
qualificada começa a faltar. As "insurreições" trabalhistas estão demandando melhores salários e trabalho decente. A população está
cada vez mais impaciente com o fato de apenas um terço da força de
trabalho industrial estar protegida
pela Previdência Social, demandando uma extensão dessa proteção, o que custa caro e encarece os produtos. Finalmente, a China está
sob forte pressão para produzir
energia não-poluente -o que também requer investimentos de grande monta.
Ou seja, a corrida é difícil, e não
podemos contar apenas com o
eventual fracasso da China. Precisamos nos ancorar no progresso do
nosso país.
É só dessa maneira que o Brasil
poderá aspirar chegar perto de
uma convergência dentro de dez
ou 15 anos. A caminhada é longa, e
temos de começar já, porque já estamos atrasados bem mais do que
15 anos.
antonio.ermirio@antonioermirio.com.br
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos
domingos nesta coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: A receita de Severino Próximo Texto: Frases
Índice
|