São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 2007

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Realidades de China e Brasil

COMO COMPETIR com a China? Até o momento estamos em desvantagem. É verdade que o Brasil mantém um superávit da ordem de US$ 1,8 bilhão no comércio com o gigante asiático. Mas o grosso desse superávit vem da soja e do minério de ferro. Nos produtos industrializados, a situação se inverte. Há 46 produtos brasileiros, em especial siderúrgicos, óleos vegetais e carnes, que penetram mal no mercado chinês, apesar de serem bem aceitos no resto do mundo. Outros 58 produtos, também mundialmente valorizados, têm enorme dificuldade para entrar na China -como metalurgia de não-ferrosos, móveis e até produtos da agropecuária ("O dragão atrai e assusta", "Indústria Brasileira", CNI, novembro de 2005). O Brasil não vende para a China; é a China que compra do Brasil.
As autoridades brasileiras costumam atribuir às empresas a baixa agressividade no mercado chinês.
É uma meia verdade. De fato, chegar na China exige denodo, conhecimento da cultura, agilidade e competência. Mas isso só pode ser alcançado se os produtores brasileiros contarem com uma melhor infra-estrutura, uma boa base logística e educação de qualidade, assim como uma redução dessa obscena carga tributária.
Temos, sim, condições de competir com a China. Mas isso não acontecerá por milagre. Precisamos dar muitos saltos para vencer os entraves que encarecem o nosso produto, restringem a variedade e comprometem a qualidade. É uma luta de dez ou 15 anos.
Mas a China não estará mais longe quando chegarmos lá? É claro que os chineses não vão parar nem esperar que a competitividade do Brasil se eleve a ponto de deslocar seus produtos dos mercados internacionais. Mas eles também têm seus problemas. A mão-de-obra qualificada começa a faltar. As "insurreições" trabalhistas estão demandando melhores salários e trabalho decente. A população está cada vez mais impaciente com o fato de apenas um terço da força de trabalho industrial estar protegida pela Previdência Social, demandando uma extensão dessa proteção, o que custa caro e encarece os produtos. Finalmente, a China está sob forte pressão para produzir energia não-poluente -o que também requer investimentos de grande monta.
Ou seja, a corrida é difícil, e não podemos contar apenas com o eventual fracasso da China. Precisamos nos ancorar no progresso do nosso país.
É só dessa maneira que o Brasil poderá aspirar chegar perto de uma convergência dentro de dez ou 15 anos. A caminhada é longa, e temos de começar já, porque já estamos atrasados bem mais do que 15 anos.

antonio.ermirio@antonioermirio.com.br


ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos domingos nesta coluna.


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