São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 2007

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CARLOS HEITOR CONY

A receita de Severino

RIO DE JANEIRO - Por diversas vezes manifestei minha descrença na democracia representativa tal como ela vem sendo praticada entre nós. Saímos há pouco de uma eleição majoritária, assistimos ao balé das alianças e compromissos. Mais cedo ou mais tarde o tempo revelará os acordos feitos, o dá-lá-toma-cá, sem esquecer os grupos e pessoas que investiram no novo desenho da nossa vida pública.
Nem recolhemos os galhardetes e as flâmulas da campanha eleitoral de outubro passado e a fauna política está novamente assanhada com a perspectiva de nova eleição, desta vez para a presidência da Câmara dos Deputados, cujo titular, além da importância inerente ao cargo, é o terceiro na linha sucessória da Presidência da República.
Um dos candidatos já revelou o seu programa: dará aumentos aos deputados e indicará seus principais eleitores, seus cabos eleitorais mais afoitos, para ministérios e autarquias. Tirando os nove fora, o mesmo processo que não faz muito elegeu o Severino Cavalcanti para a presidência da Câmara. A isso os teóricos da política chamam de "renovação" de quadros e intenções.
Não vem ao caso discutir quem seria o melhor. Os dois candidatos lançados têm méritos, mas a escalada ao poder, sobretudo quando o colégio eleitoral é pequeno, macula qualquer passado, polui qualquer transparência: o eleito será aquele que mais prometer.
É uma pena que as coisas sejam assim. Tudo nos conformes da democracia representativa, todos obedecendo a regra do jogo -e, convenhamos, um jogo sujo, no qual estamos sempre perdendo.
A impressão que se tem, após a experiência do Severino, que abriu uma terceira via na eleição passada, é que os nomes mudaram, mas o processo de vencer continua o mesmo.


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