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RUY CASTRO
Coincidências
RIO DE JANEIRO - Em novembro de 2007, publiquei um romance, "Era no Tempo do Rei", pela Alfaguara. No dia 23 de dezembro último, a TV Globo levou ao ar o especial "O Natal do Menino Imperador", um "original" de Péricles Barros. Amigos me recomendaram não
deixar de assistir. Liguei a TV e comecei a ter sensações de "déjà vu".
O protagonista do livro é o futuro
D. Pedro 1º, ainda menino. O do especial de TV é o futuro D. Pedro 2º,
ainda menino. A história do livro
começa num dia festivo, no Carnaval. A da TV também, só que no Natal. No livro, o príncipe D. Pedro se
sente entediado e não gosta de estudar. Na TV, D. Pedro, já imperador,
se sente entediado com os estudos.
No livro, ao fugir do palácio por
causa de uma travessura, Pedro se
vê sozinho na cidade. Mete-se numa encrenca e é salvo por um garoto de sua idade, Leonardo, um menino de rua. Na TV, Pedro sai numa
cavalgada, rola por uma ribanceira,
cai num rio e se vê sozinho. Sem as
roupas reais, encontra um garoto
de sua idade, Dito, um escravo.
No livro, o menino pobre conta
vantagem para Pedro, sem saber
quem ele é. E este se apresenta desfiando todos os seus nomes reais.
Na TV, a mesma coisa, com o menino imperador também desfiando
todos os seus nomes reais. No livro,
Pedro inveja a liberdade de Leonardo para viver solto nas ruas. Na TV,
Pedro inveja a liberdade de Dito para brincar. No livro, Pedro e Leonardo estão no quarto do jovem
príncipe, comendo à farta. Na TV,
idem. No livro, Pedro mostra a Leonardo os quadros com os retratos a
óleo de seus antepassados, para
pasmo do menino pobre. Na TV,
idem, ibidem.
Nesse ponto, parei de assistir.
Histórias de príncipes e plebeus são
comuns na literatura e na TV, mas
essa coincidência de minúcias
ameaçava me tirar o apetite para
o Natal.
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