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FERNANDO RODRIGUES
O mérito do recuo
BRASÍLIA - Quando um político
recua e desmancha um erro, há motivos para festejar. Ontem foi um
desses dias raros, pois Brasília conseguiu produzir algo positivo.
A Mesa Diretora da Câmara dos
Deputados anulou uma bobagem
praticada na semana anterior. Cancelou a gratificação de até R$ 1.800
para os funcionários com cargos de
chefia. Também ficou, por ora,
abandonada a possibilidade exótica
de tentar criar um plano de saúde
para 12 mil famílias de servidores
sem gastar nada.
Se houver má vontade, enxerga-se timidez excessiva na nota emitida pelos deputados sob o comando
do presidente da Casa, Arlindo Chinaglia. Em vez de simplesmente dizer "erramos", o texto lista várias
desculpas esfarrapadas.
Nessas horas, quanto mais se fala,
pior é. No caso do plano de saúde
"gratuito", por exemplo, os deputados dizem estar agora interessados
em voltar ao tema quando houver
uma "proposta fundada em números". Por analogia, conclui-se que
na semana passada as excelências
tomaram a decisão sem ter uma
proposta em mãos.
Mas, mesmo envergonhado, o recuo dos deputados é positivo. Apesar da verborragia, ficou para as calendas o tal plano de saúde com ou
sem a "proposta fundada em números". Esse é o resultado mais relevante: anulou-se um erro.
O caso também é exemplar para
mostrar o pior e o melhor do Congresso. Os deputados são capazes
de adotar medidas estapafúrdias
numa semana. Na outra, depois de
pressionados, voltam atrás. A Câmara é o poder mais devassado do
país. Não há na República órgão
mais investigado. O Senado fica
muito atrás, por sua tradição hermética. O Executivo e o Judiciário
estão a léguas de distância quando o
assunto é transparência.
Admitir um erro é doloroso. A
Câmara, sempre criticada neste espaço, desta vez acertou ao recuar.
frodriguesbsb@uol.com.br
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