|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Verdade e poder, dois estranhos
SÃO PAULO - Roberto Saviano é
um jornalista italiano que investigou as máfias de seu país e as conexões com o poder. Produziu um livro, "Gomorra", que lhe valeu uma
espécie de condenação informal à morte pelos clãs mafiosos.
No começo de outubro, em ato
público de protesto contra os ataques do primeiro-ministro Silvio
Berlusconi à mídia, Saviano soltou
esta frase: "Verdade e poder não coincidem nunca".
Exagero? Talvez, mas não muito,
a julgar por duas notícias dos jornais de ontem, para não pesquisar
exemplos anteriores. Primeira: o
governo holandês, depois de tomar
a decisão de apoiar a invasão do Iraque já em 2002 (a invasão só se deu
em 2003), passou a selecionar nos
textos dos serviços de inteligência
apenas os trechos que se adequassem à linha política já decidida.
Detalhe: estamos falando da civilizada Holanda.
Segunda notícia: o governo grego
manipulou estatísticas para tentar
esconder o seu formidável deficit
público. No dia 2 de outubro, mandou informe à Comissão Europeia
dizendo que o deficit em 2009 seria
de 3,7%; apenas 19 dias depois, novo
informe, em que o deficit saltou para 12,5%.
No Brasil, o Ipea faz questão de
dizer que caiu a desigualdade, sem
deixar claro que caiu apenas a desigualdade entre salários, que seu
próprio presidente, Marcio Pochmann, considera muito menos importante do que a disparidade entre
renda do capital e renda do trabalho. Cultiva uma lenda, embaçando
a realidade.
São fatos indiscutíveis. Diante
deles (e haveria toneladas de outros
se espaço houvesse), você decide se
vale a pena deixar que o governo
(qualquer governo) controle os
meios de comunicação, como pretende o Plano Nacional de Direitos
Humanos, ou se é mais saudável
que você mesmo os controle, mudando de canal ou de jornal na hora
em que quiser.
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: Concorrência na saúde
Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: O Nobel da Paz brasileiro Índice
|