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ELIANE CANTANHÊDE
CPI à vista
BRASÍLIA - O espectro de uma CPI para apurar o monstruoso grampo
da Bahia ronda o Congresso Nacional. E está para se materializar.
Por enquanto, as investigações caminham pelos passos da Polícia Federal, da Procuradoria da Câmara e,
como sempre, da imprensa. Mas os
indícios de que o governo baiano seja
o mandante do crime sugere desde já
uma CPI -a primeira da era Lula.
O motivo é legítimo: quatro deputados federais foram grampeados entre centenas de outras vítimas. O escândalo caracteriza um evidente ataque ao Estado de Direito numa das
unidades da Federação.
Uma coisa é o grampo clandestino,
ilegal na origem. Outra é o grampo
pretensamente legal, que passa por
assinaturas e instâncias da Justiça,
da polícia e, evidentemente, do poder
político. Ou seja, de governos. Isso é
terrorismo de Estado.
Apesar da saia justa -porque o
principal suspeito é o grupo do senador Antonio Carlos Magalhães
(PFL)-, o PT e o governo federal já
não têm mais alternativa: é ir até o
fim ou ir até o fim para identificar
responsabilidades.
"A situação é gravíssima, e o PT é
radical contra esse tipo de coisa", disse o presidente do partido, José Genoino, admitindo a hipótese de CPI.
"E se a culpa recair sobre um peixão graúdo do Congresso que é aliado ao governo?", perguntei-lhe.
"O Parlamento tem de ter coragem
de cortar na própria carne", respondeu, falando "pelo PT, não pelo governo". Mas ele não é tucano nem
marciano, é petista e unha e carne
com o Planalto de Lula e Zé Dirceu.
Para Lula, como para qualquer governo, é péssimo abrir o primeiro semestre de trabalhos já com uma CPI.
Mas é melhor isso do que deixar o escândalo passar em branco.
Lula não deve livrar a cara nem incentivar a desgraça de ninguém, mas
já há petista reconhecendo o que o
experiente Genoino jamais poderia
admitir: que pode ser um bom negócio deixar o processo rolar e se livrar
logo, e cedo, de um potencial problema como ACM. Basta lavar as mãos.
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