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MARCELO BERABA
Fome zero
RIO DE JANEIRO - Concebida para ser a principal marca da primeira fase do governo Lula, o programa Fome Zero transformou-se numa grande e inimaginável dor de cabeça para
os seus responsáveis. As divergências
iniciais quanto ao funcionamento do
programa e as disputas pelo seu controle provocaram um desgaste que
poderia ter sido evitado.
A continuação das críticas vindas
de personalidades e de entidades que
conhecem bem o assunto da fome e
da desnutrição já provocam uma inquietude. E a principal figura do programa, José Graziano, que já vinha
sendo questionada pelas divergências apontadas, desgastou-se ainda
mais, talvez de forma irreversível, ao
justificar a importância do programa
para as elites paulistas. Seu discurso,
ao apelar para o medo, renegou a essência da campanha eleitoral do PT.
Os problemas com o Fome Zero não
terminaram. Pode-se dizer que mal
começaram. O conselho criado para
acompanhar o programa volta a se
reunir dia 25, e é certo que novos
questionamentos surgirão em relação à sua organização e, principalmente, aos seus objetivos.
Formado por vários especialistas
envolvidos há anos em campanhas e
programas alimentares, o conselho
deverá reagir se não tiver voz e influência. Embora muitos dos que
participam gravitem na órbita do
PT, as entidades e movimentos que
representam têm compromissos históricos com a autonomia e a independência. Se o conselho se sentir
manipulado, certamente reagirá.
E o embate entre os que priorizam a
emergência assistencialista e os que
reivindicam do governo uma ação
mais macro -que inclua no âmbito
do conselho e do programa do governo outras frentes como a agricultura
familiar, a reforma agrária e a nutrição materno-infantil- ainda mal
começou.
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