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JOSÉ SARNEY
Os alegres sorrisos da guerra
Não é de inspirar confiança nem
de orgulhar a humanidade o nível das discussões sobre a iminente
guerra contra o Iraque. É a imagem de
sorrisos e abraços, risadas e alegria
que marca a comunicação visual das
reuniões em que se discute essa gravíssima questão. Nem a severidade
que devia presidir a alta responsabilidade de lidar com a guerra se vê, nem
a face de apreensão de suas consequências transparece nas fotos das
reuniões do Conselho de Segurança
da ONU, órgão que, embora enfraquecido e acuado, discute a conduta
de Saddam e a posição a ser tomada.
Parece mais uma festa de confraternização e a discussão de um assunto banal. Do mesmo modo, as entrevistas
dos inspetores das Nações Unidas encarregados de saber se o Iraque possui
ou não armas de destruição em massa.
Eles falam como se estivessem discorrendo sobre uma partida de golfe. Alguns, com uma certa frustração, dizem: "Até agora não encontramos nada". Também nos assusta a sensação
de que artefatos ou armas biológicas
capazes de acabar com o mundo podem ser escondidos debaixo de um
colchão de cama.
Ninguém, nem de leve, pensa nos
destinos humanos que estão envolvidos, de mães, esposas, filhos e parentes dos combatentes e civis que estão
no corredor da morte.
Afirma-se que o terrorismo condena
inocentes. As maiores vítimas de todas as guerras são os inocentes. Os que
decidem as guerras não estão no campo de batalha.
Trata-se a guerra como se fosse uma
simples "caçada de tigre", como diziam os ingleses na Índia colonizada,
quando convidavam alguém para um
divertimento perigoso.
Por falar na Índia, lembro-me, eu,
que sempre fui um admirador de
Churchill, do quanto me chocou ler
no seu livro "My Early Life" a descrição de seu entusiasmo sobre a batalha
de Ondurman, da qual participou,
quando descreve a carnificina das colunas em choque nas cargas de cavalaria e consegue ver a contribuição da
luz naquela paisagem de sangue, com
o "sol oblíquo a colorir a cena". Mas é
o mesmo Churchill quem afirma: "O
homem de Estado que cede à febre da
guerra deve compreender que, uma
vez dado o sinal de partida, ele não é
mais o senhor da política, e sim escravo de acontecimentos imprevisíveis e
impossíveis de controlar. Sirva-nos isso de lição".
Saddam Hussein é um tirano dos
mais abomináveis da história. É responsável por milhares de mortes nas
guerras que fez contra os vizinhos, no
Irã e no Kuait, pelo trucidamento dos
curdos, pela repressão interna brutal
que impôs ao seu povo, até mesmo assassinando membros de sua própria
família. Mas tanto mal causado ao seu
país e à humanidade não pode justificar a destruição em massa de iraquianos, civis desarmados, famintos que
tanto padecem. Matá-los numa guerra e destruir esse pobre país é coroar a
obra de um execrável tirano. Contra
ele os países devem impor todas as
sanções e tomar medidas para afastá-lo da comunidade internacional. Mas
ir à guerra, como parece estar decidido, é a pior de todas as soluções.
Valha-nos Deus!
José Sarney escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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