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Curto-circuito
Falta de habilidade e experiência do governo Obama, em meio à avalanche da crise, amplia insegurança
SURGE UM contraste entre
o desempenho inicial do
governo Barack Obama
na área externa, que vai
bem, e a sucessão de trombadas
em temas domésticos, notadamente na política econômica.
A fonte maior das dificuldades,
sem dúvida, é o vulto assumido
pela crise nos Estados Unidos.
Está em curso uma rápida desagregação dos circuitos econômicos, com queima furiosa de capital e postos de trabalho. A onda
de insolvência gerada nesse processo volta a ameaçar o setor financeiro. Desta vez, nem os
grandes bancos de varejo americanos escapam das especulações.
Mas a inabilidade e a inexperiência do governo recém-empossado também ajudam a ampliar a insegurança e os estragos.
O Congresso só votou ontem,
mais de um mês depois da posse,
a versão definitiva do programa
de estímulo proposto pela Casa
Branca. Entre idas e vindas e
muita energia dissipada, ficou
patente que o governo Obama
não soube conduzir o debate e foi
engolfado por um jogo parlamentar miúdo -o que é incomum em se tratando de um presidente que acabou de ser eleito,
num país exposto a gravíssima
deterioração econômica.
A demora e os impasses minaram aquele que seria o maior
trunfo imediato do pacote de
US$ 787 bilhões (5% do PIB):
instilar confiança em empresários, consumidores e investidores para que reativem os negócios. Centrado em corte de impostos e gastos públicos de execução e maturação mais lentas, o
programa da Casa Branca ainda
vai levar algum tempo para produzir efeitos concretos.
Se a gestão democrata vacilou
no primeiro teste legislativo, a
aparição do ministro do Tesouro
na terça, para anunciar o novo
formato da ajuda estatal aos bancos, foi o primeiro fiasco da administração Obama. Depois de
ter prometido substancial alteração de rota na abordagem herdada da gestão Bush, Timothy
Geithner apresentou um palavrório confuso e mal detalhado,
que não esclarece nem se haverá
a prometida mudança.
Os EUA voltam a acalentar a
ideia de comprar "ativos podres"
dos bancos, levantada no início
da fase aguda da crise pelo governo Bush e a seguir abandonada.
Livres dos empréstimos de difícil recebimento, as instituições
poderiam retomar o fluxo do
crédito. Além da complexidade
de operar um projeto desses, teme-se que a terapêutica proposta equivalha a tratar uma infecção grave com xarope para tosse.
O temor diz respeito ao grau de
comprometimento do núcleo do
sistema bancário -daí a presença constante do termo "estatização" no debate mais recente.
Geithner também se furtou a esclarecer quais são as decisões do
governo nesse tema crucial.
Inaugurou uma série de auditorias em grandes bancos, as quais
supostamente vão ensejar injeção de mais dinheiro público em
instituições fragilizadas.
Não se sabe quais serão os critérios para determinar a ajuda
estatal. Não se conhece o grau de
intervenção nas casas bancárias
particulares. Não se divisa a fatia
do sistema financeiro sujeita à
intrusão governamental. Tanta
incerteza só piora as coisas.
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