São Paulo, sábado, 14 de fevereiro de 2009

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Editoriais

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Curto-circuito

Falta de habilidade e experiência do governo Obama, em meio à avalanche da crise, amplia insegurança

SURGE UM contraste entre o desempenho inicial do governo Barack Obama na área externa, que vai bem, e a sucessão de trombadas em temas domésticos, notadamente na política econômica.
A fonte maior das dificuldades, sem dúvida, é o vulto assumido pela crise nos Estados Unidos. Está em curso uma rápida desagregação dos circuitos econômicos, com queima furiosa de capital e postos de trabalho. A onda de insolvência gerada nesse processo volta a ameaçar o setor financeiro. Desta vez, nem os grandes bancos de varejo americanos escapam das especulações.
Mas a inabilidade e a inexperiência do governo recém-empossado também ajudam a ampliar a insegurança e os estragos.
O Congresso só votou ontem, mais de um mês depois da posse, a versão definitiva do programa de estímulo proposto pela Casa Branca. Entre idas e vindas e muita energia dissipada, ficou patente que o governo Obama não soube conduzir o debate e foi engolfado por um jogo parlamentar miúdo -o que é incomum em se tratando de um presidente que acabou de ser eleito, num país exposto a gravíssima deterioração econômica.
A demora e os impasses minaram aquele que seria o maior trunfo imediato do pacote de US$ 787 bilhões (5% do PIB): instilar confiança em empresários, consumidores e investidores para que reativem os negócios. Centrado em corte de impostos e gastos públicos de execução e maturação mais lentas, o programa da Casa Branca ainda vai levar algum tempo para produzir efeitos concretos.
Se a gestão democrata vacilou no primeiro teste legislativo, a aparição do ministro do Tesouro na terça, para anunciar o novo formato da ajuda estatal aos bancos, foi o primeiro fiasco da administração Obama. Depois de ter prometido substancial alteração de rota na abordagem herdada da gestão Bush, Timothy Geithner apresentou um palavrório confuso e mal detalhado, que não esclarece nem se haverá a prometida mudança.
Os EUA voltam a acalentar a ideia de comprar "ativos podres" dos bancos, levantada no início da fase aguda da crise pelo governo Bush e a seguir abandonada. Livres dos empréstimos de difícil recebimento, as instituições poderiam retomar o fluxo do crédito. Além da complexidade de operar um projeto desses, teme-se que a terapêutica proposta equivalha a tratar uma infecção grave com xarope para tosse.
O temor diz respeito ao grau de comprometimento do núcleo do sistema bancário -daí a presença constante do termo "estatização" no debate mais recente. Geithner também se furtou a esclarecer quais são as decisões do governo nesse tema crucial. Inaugurou uma série de auditorias em grandes bancos, as quais supostamente vão ensejar injeção de mais dinheiro público em instituições fragilizadas.
Não se sabe quais serão os critérios para determinar a ajuda estatal. Não se conhece o grau de intervenção nas casas bancárias particulares. Não se divisa a fatia do sistema financeiro sujeita à intrusão governamental. Tanta incerteza só piora as coisas.


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