|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SÉRGIO MALBERGIER
Arruda nada muda
SÃO PAULO - A prisão de José Roberto Arruda nada muda no quadro
amplo da corrupção institucional.
Mais impactante do que sua prisão no cargo foi o fato de ele ter resistido tanto tempo no posto mesmo depois das imagens chocantes
da podridão de seu governo.
Assistimos a um verdadeiro "Big
Brother Brasil" da política, com dinheiro em envelopes pardos, meias,
cuecas e até orações pelo maná da
corrupção. Mas, mesmo assim, Arruda ficou, com o apoio da maioria
de seus pares e cúmplices.
Assim como o impeachment de
Collor no nascedouro deste ciclo
político nada mudou na forma podre de se fazer política no país, a prisão temporária de Arruda, embora
inédita, nada muda porque não há
no eleitorado semialfabetizado e
entre juízes, promotores e policiais
força capaz de enfrentar a corrupção consensual e viral entre nossos
políticos -a pior face do país.
As eleições seguem financiadas
de forma criminosa pelo caixa dois,
pecado original da política. E não há
entre os grandes partidos ninguém
que empunhe a vassoura contra a
corrupção, tão óbvia e popular.
Enquanto a economia avança e
puxa o Brasil, depois do libertário
consenso fechado por Lula em torno do capitalismo, a política segura
nosso potencial como uma bola de
ferro em nossos pés. É o outro forte
consenso, este sufocante, fechado
por Lula e seus mensaleiros.
A Itália mandou para o lixo o sistema político do pós-guerra com a
Operação Mãos Limpas, força-tarefa de magistrados contra a corrupção desembestada. Apesar de erros
processuais, que impediram punições mais duras, os italianos ao menos tentaram, deram limites à impunidade e aos políticos.
No Brasil, não se vê agente capaz
de realizar feito similar, até porque
as altas instâncias judiciais e policiais são manietadas pela classe política, sem falar de falhas graves nas
investigações e nos processos.
Por isso, não se anime muito com
a prisão de Arruda. Infelizmente,
ela não muda nada no sistema.
Texto Anterior: Editoriais: Ética sem desconto
Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Pobre Brasília Índice
|