São Paulo, Domingo, 14 de Fevereiro de 1999
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Cadê a Lilian?

ELIANE CANTANHÊDE


Brasília - Em vez de convocar a PM, o governador Itamar Franco deveria fazer como o presidente Itamar Franco e convocar a Lilian Ramos.
A época é apropriada. Foi justamente no Carnaval que os jornais do mundo todo publicaram as fotos do então presidente da República com a modelo sem calcinha. Alegria, alegria!
E parece que Itamar gosta mesmo de um Carnaval. Sua gestão no governo mineiro é um verdadeiro batuque contra o governo federal e o ex-amigo e ex-primeiro-ministro Fernando Henrique Cardoso.
Decretou a moratória, expôs a fragilidade da política econômica e aguçou o apetite dos urubus pelo real.
Depois, recusou-se a falar com FHC, a participar da reunião geral de governadores e a negociar qualquer coisa. O governador do "não".
Também é difícil entender por que as indústrias, os trabalhadores, o governo federal e os governos estaduais fecham acordo para baixar os preços dos carros e só ele fica de fora.
A proposta não reduz o ICMS apenas de Minas, e sim dos Estados produtores. Mas aquece o setor e, principalmente, garante empregos. Cada um perde um pouco, todos lucram.
Itamar, porém, prefere manter sua briguinha particular contra FHC e sua busca por espaço político.
Agora essa de convocar a milicada da PM para se trancar com ele no Palácio da Liberdade na véspera do Carnaval. É o samba do crioulo doido.
O que ele queria com isso? Há inúmeras versões, mas no caso de Itamar tudo é tão possível quanto impossível.
Ele quis mostrar que Minas ainda é Minas. OK. Quis se solidarizar com os militares pelos soldos que definham. OK. Quis dizer a eles como reagir diante da revolta popular que crê inevitável. OK. Mas, no fundo, no fundo, o que ele fez foi só aumentar a confusão.
No início, ele gerou polêmica, ocupou o palco, ficou sob os holofotes e entrou no vácuo de uma liderança nacional de Minas. E agora?
Um bom político sabe a hora de avançar e a de recuar. Quem só avança corre o sério risco de ficar contra tudo e contra todos e de se isolar. É pior do que pular Carnaval sozinho.


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