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O Carnaval e a crônica
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Domingo de Carnaval sempre me lembro de duas crônicas de dois cobras que elevaram o gênero à prateleira nobre da literatura:
Humberto de Campos e Rubem Braga.
Sem assunto, e com o pessoal berrando
nas ruas, eles resolveram a questão
alinhando no texto o que estavam ouvindo.
O primeiro, em 1933, um ano antes
de morrer, encheu o seu espaço com os
sucessos daquele ano: Meu bem, pra
me livrar da matraca, da língua de
uma sogra infernal, eu comprei um
trem blindado pra poder sair no Carnaval. (...) Linda morena, morena que
me faz penar, a lua cheia que tanto
brilha não brilha tanto quanto o seu
olhar (...).
Até amanhã se Deus quiser, se não
chover eu volto pra te ver, oh mulher.
(...) Quando eu morrer não quero choro nem vela, quero uma fita amarela
gravada com o nome dela. (...) Vai haver barulho no chatô porque minha
morena é falsa e me enganou. (...) Foi
Deus quem te fez formosa.
Trinta anos depois, Rubem Braga
também fez o mesmo e encheu uma
página da revista em que escrevia com
as músicas do ano: É ou não é, piada
de salão, se acham que não é, então
não conto não. (...) As águas vão rolar,
garrafa cheia eu não quero ver sobrar.
(...) A história da maçã é pura fantasia, maçã igual àquela papai também
comia. (...) Eu não sou água pra me
tratares assim, só na hora da sede é
que procuras por mim. E foi por aí o
grande Braga.
Mais 30 anos se passaram, e aqui estou eu tentando copiar os dois mestres. Para azar meu, não conheço, nem
ouvi, nem soube da existência de alguma musiquinha para este Carnaval.
Ando defasado, a última obra-prima
que chegou ao meu conhecimento foi o
""Segura o Tchan". Nem sei a letra toda, sei o título e acho que é o bastante.
Donde podemos concluir que pioraram as músicas e os cronistas. Bem
verdade que ficou mais fácil fazer música. E fazer crônica está cada vez
mais difícil.
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