São Paulo, domingo, 14 de março de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

Cadáveres insepultos

BRASÍLIA - Depois de Dirceu, quem cai na rede de suspeitas e intrigas é Palocci. E não mais por causa da política econômica, mas por relações perigosas com um sujeito suspeito, envolvido em negócios do governo. Gente, a coisa estava preta, mas está ficando pretíssima.
Waldomiro Diniz fazia negociatas até com bicheiros e foi trabalhar no Planalto com Dirceu, o homem forte da política no governo Lula. E agora surge Rogério Buratti, que foi afastado pelo então prefeito Palocci em Ribeirão Preto por estar metido em coisas esquisitas, mas foi trabalhar numa empresa que tem contratos com a prefeitura e supostamente se aliou a Waldomiro em negócios com o governo Lula -no qual o mesmo Palocci que o afastou é homem forte da economia. Dá para entender?
É como se você flagrasse um empregado roubando e o afastasse formalmente, mas no dia seguinte ele voltasse como diarista terceirizado e fosse prestar serviços, primeiro para seus familiares e amigos e depois na casa da sua mãe. Palocci precisa agir rápido. Bloquear as suspeitas. Mostrar quais as suas relações com o cara e por que ele ressurgiu das cinzas.
Dado fundamental: Buratti saiu da prefeitura e foi para o grupo Leão & Leão, que também atua na área do lixo! Fecha-se o cerco. Os escândalos atingem agora não só um, mas os dois braços do presidente da República, o direito e o esquerdo. E Waldomiro foi flagrado com jogo, Buratti se envolveu com lixo. Só falta alguém ligado a transportes para concluir a trilogia maldita que se atribui ao PT.
A base do governo está ferida. Os envolvidos ficaram em pânico. Brasília parece perplexa. E estamos todos sem resposta para a seguinte pergunta: e agora?
É com enorme tristeza que constato: antes o governo do PT estivesse se esfarelando só por incompetência. Mas por escândalos?! Dói. No nosso imaginário, o bem sempre vence o mal. Mas a esquerda no poder precisa rapidamente reagir e impedir a volta da principal maldição da política brasileira: o "rouba, mas faz".



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