|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANTONIO DELFIM NETTO
Fatos preocupantes
NA ÚLTIMA semana, assistimos a três fatos preocupantes. O primeiro foi a visita
do presidente Bush, um gesto simbólico envolvido num diversionismo -a expansão do etanol- que
pode ter grande futuro e que até
agora tinha sido ignorado pelo governo. Ele colocou às claras o infantilismo da política externa norte-americana em relação aos países
do "bem" da América do Sul. Mas
não passou impune. A esquerda
"jurássica", que insiste em resistir
e ignorar a história (e a evolução do
pensamento da esquerda esclarecida sobrevivente), fez questão de ir
às ruas para, também, demonstrar
o seu próprio infantilismo. Defendeu frenética e convictamente o
atraso geral. Proclamou Chávez como emanação da "verdadeira democracia", em oposição ao governo
tirânico e da "falsa democracia"
que controla os EUA.
O segundo foi a mal disfarçada
sugestão de que "precisamos de
mais uma televisão estatal para
compensar a liberdade do monopólio privado dos meios de informação". Ela devolveu à nossa memória um dos episódios mais ridículos dos que já envolveram a fina
flor da intelectualidade paulista.
Revela o cinismo, a fraude e a falta
de entendimento que podem dominar mentes ilustres. Trata-se da
entrevista que Sartre e Simone de
Beauvoir deram à TV Excelsior de
São Paulo em 1960, quando visitaram o Brasil. O relato (Folha de
12/6/2005) é de quem viria a ser
um senhor intelectual, o professor
Bento Prado Jr., uma das glórias
do pensamento filosófico brasileiro que, infelizmente, nos deixou há
pouco. Ei-la: "Folha: Como Sartre se comportou na entrevista à TV Excelsior?
Prado Jr.: Na verdade, foi uma
pseudo-entrevista. Antes de entrarmos no palco, Sartre e Simone
nos comunicaram (sic) as perguntas que gostariam de responder.
Todas ordenadas na defesa da Argélia e de Cuba (...) O divertido é
que me coube a seguinte pergunta,
endereçada a Simone: "Cuba é uma
ditadura?". Ela respondeu pela negativa, e com tanta violência que
fez um espectador da platéia perguntar a meu amigo Jorge da Cunha Lima: "Quem é esse rapazinho
reacionário?" (...) A entrevista teve
três horas de duração, para espanto de Sartre, que não entendia como uma empresa capitalista (sic)
perdesse tanto dinheiro (suspendendo seus programas) para dar
lugar a uma pura propaganda do
socialismo (sic)".
O terceiro foi a ressurreição da
proposta de que o Parlamento entregue ao Executivo o seu poder de
aprovar a consulta popular pelo
plebiscito, um caminho promissor
e seguro para a "democracia antropofágica".
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Ruy Castro: Palas e poses Próximo Texto: Frases
Índice
|