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Ordem na Casa
A CONTURBADA aprovação,
na madrugada de quarta,
da medida provisória que
cria a TV Brasil expôs, mais uma
vez, as vicissitudes de um conhecido desequilíbrio institucional.
A propósito do abuso das MPs
pelo Executivo, tornaram-se freqüentes entre parlamentares desabafos como o feito na fatídica
sessão pelo presidente do Senado, Garibaldi Alves: "O governo
tem violentado este Congresso".
O que o senador expressa -em
linguagem exacerbada pela animosidade que tomou conta daquela votação- não é mais que
um truísmo. É preciso emendar,
contudo, que, ao abusar das MPs,
o governo aproveita-se de enormes brechas propiciadas pelos
próprios parlamentares.
A regulamentação frouxa da
edição de medidas provisórias, a
falta de iniciativa para limitar a
ingerência do Executivo em assuntos tipicamente parlamentares, a comodidade de submeter-se ao governismo em troca de
compensações paroquiais, tudo
isso é obra do Congresso Nacional -levada a termo ao longo de
várias legislaturas. O Legislativo,
portanto, tem todos os instrumentos para acabar com a fonte
do abuso, exceto o principal: o
desprendimento para fazê-lo.
Há sinais de que essa situação
está para mudar. O desabafo de
Garibaldi Alves dá-se num momento em que uma comissão,
criada pela Câmara dos Deputados, estuda novas regras para as
MPs. O Legislativo deveria acelerar esse trabalho, pois já está maduro o diagnóstico de que é preciso estabelecer um ônus, hoje
inexistente, ao governo que edita
medidas como essas.
Se o Executivo está convencido da urgência e da importância
do ato, se conta ter condições de
reunir maioria no Congresso para aprová-lo, então é sua a responsabilidade de arregimentar a
base em tempo hábil. Não faz
sentido manter o atual sistema,
que tranca a pauta após 45 dias
da edição da MP e coloca o Congresso a reboque do Planalto.
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