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CLÓVIS ROSSI
Com medo de ser feliz
SÃO PAULO - Nem bem começou
a ser lido o artigo de Paulo Nogueira
Batista Jr., na Folha de ontem, e já
saía a ata da reunião do Conselho
de Política Monetária (o Copom, o
que decide os juros) para desmenti-lo, ao menos parcialmente.
Dizia o artigo, com razão: "A experiência começa a revelar como
era enganosa aquela idéia, muito
difundida entre nós, de que o Brasil
só voltaria a crescer depois que implementasse uma série de difíceis
reformas estruturais (previdenciária, tributária, trabalhista etc.). As
reformas estruturais podem ser
importantes, mas não constituíam
precondição para a retomada do
crescimento econômico. O governo
Lula foi seduzido por essa idéia durante a maior parte do seu primeiro
mandato, mas depois percebeu que
estava marcando passo e deu
mais ênfase à aceleração do crescimento".
De acordo, Paulinho. Pena que a
ata do Copom revele o mesmo medo de ser feliz que amarrou a maior
parte do governo Lula e impediu
até o "espetáculo do crescimento",
prometido em 2003. Para quem
acha que os 5,4% de 2007 são um
espetáculo, reproduzo de novo
Paulo Nogueira Batista Jr.: "O resultado de 2007 não chega a ser espetacular". Claro que é "um progresso considerável", mas espetacular, não.
Voltemos à ata do Copom: veio
prenhe de pessimismo, de alertas
sobre a turbulência global, sobre a
inflação e até de uma informação
que é em si uma ameaça. O Copom
afirma que chegou a cogitar em aumentar, já em janeiro, a taxa de juros, o que significa dizer que, mantidas as condições de temperatura e
pressão expostas na ata, o razoável
é supor que virá um aumento logo,
logo.
É improvável que aumentar os
juros interfira decisivamente nos
efeitos da turbulência sobre o Brasil. Ou que debele a inflação, contida no setor de alimentos. Só tende a atrapalhar o "progresso considerável" contido nos números de 2007.
crossi@uol.com.br
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