São Paulo, sexta-feira, 14 de março de 2008

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CLÓVIS ROSSI

Com medo de ser feliz

SÃO PAULO - Nem bem começou a ser lido o artigo de Paulo Nogueira Batista Jr., na Folha de ontem, e já saía a ata da reunião do Conselho de Política Monetária (o Copom, o que decide os juros) para desmenti-lo, ao menos parcialmente.
Dizia o artigo, com razão: "A experiência começa a revelar como era enganosa aquela idéia, muito difundida entre nós, de que o Brasil só voltaria a crescer depois que implementasse uma série de difíceis reformas estruturais (previdenciária, tributária, trabalhista etc.). As reformas estruturais podem ser importantes, mas não constituíam precondição para a retomada do crescimento econômico. O governo Lula foi seduzido por essa idéia durante a maior parte do seu primeiro mandato, mas depois percebeu que estava marcando passo e deu mais ênfase à aceleração do crescimento".
De acordo, Paulinho. Pena que a ata do Copom revele o mesmo medo de ser feliz que amarrou a maior parte do governo Lula e impediu até o "espetáculo do crescimento", prometido em 2003. Para quem acha que os 5,4% de 2007 são um espetáculo, reproduzo de novo Paulo Nogueira Batista Jr.: "O resultado de 2007 não chega a ser espetacular". Claro que é "um progresso considerável", mas espetacular, não.
Voltemos à ata do Copom: veio prenhe de pessimismo, de alertas sobre a turbulência global, sobre a inflação e até de uma informação que é em si uma ameaça. O Copom afirma que chegou a cogitar em aumentar, já em janeiro, a taxa de juros, o que significa dizer que, mantidas as condições de temperatura e pressão expostas na ata, o razoável é supor que virá um aumento logo, logo.
É improvável que aumentar os juros interfira decisivamente nos efeitos da turbulência sobre o Brasil. Ou que debele a inflação, contida no setor de alimentos. Só tende a atrapalhar o "progresso considerável" contido nos números de 2007.


crossi@uol.com.br

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