São Paulo, sábado, 14 de março de 2009

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Diplomacia do álcool

É obrigação de Lula tratar com Obama da injusta sobretaxa contra produto brasileiro, porém sem excesso de expectativa

EM SEU primeiro encontro com Barack Obama, hoje, espera-se que o presidente Lula toque no tema sensível da sobretaxa imposta ao álcool brasileiro, de pouco mais de 14 centavos de dólar por litro. O contencioso se arrasta há anos. Com a reviravolta prometida pelo presidente Obama na política energética do país que mais consome combustíveis no mundo, viceja no Planalto e entre produtores a expectativa de que a tarifa seja enfim eliminada. Melhor, porém, ir devagar com o andor.
O planeta e a economia já deram muitas voltas desde que teve início o boom do álcool. De dois fatores que contribuíram para a expansão dos investimentos no setor -carros flex, no Brasil, e substituição do aditivo MTBE na gasolina dos EUA-, pelo menos do segundo se pode dizer que seu efeito parece esgotado.
Depois de um salto, há três anos, as exportações do biocombustível brasileiro ao mercado americano oscilaram muito, mas não ultrapassaram o patamar de 10% da produção no melhor ano (2006, com 1,8 bilhão de litros embarcados). Enquanto a produção brasileira disparava, movida sobretudo pelo mercado interno, as vendas diretas para os EUA em 2008 ficaram em mero 1,5 bilhão de litros, contra uma produção total de 26,6 bilhões.
São cifras modestas diante dos 57 bilhões de litros de álcool que os americanos estariam consumindo em 2022, se um dia vier a ser cumprida a meta, fixada por George W. Bush no final de 2006, de aumentar a participação dos biocombustíveis para 20% na matriz americana. Como os Estados Unidos não têm terra para ampliar tanto sua produção, produtores brasileiros se animaram com a perspectiva de mercado. Mais entusiasmo ainda despertou Obama candidato, com as indicações de que aceleraria a marcha para fontes alternativas de energia, biocombustíveis incluídos.
Obama se elegeu, mas sobreveio também a maior crise econômica em muitas décadas. Preços e consumo de álcool combustível nos EUA estão caindo, de par com os da gasolina. Já se dá como certo que as metas de Bush não serão cumpridas.
Não parece provável que o novo presidente, na tormenta atual, assuma o compromisso de rever a sobretaxa. A medida seria encarada como danosa aos interesses do produtor americano. Obama pode até surpreender e fazer algum aceno, mas os brasileiros devem preparar-se para esperar mais algum tempo pela medida que, além de justa, traria mais segurança ao setor alcooleiro.


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