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Diplomacia do álcool
É obrigação de Lula tratar com Obama da injusta sobretaxa contra produto brasileiro, porém sem excesso de expectativa
EM SEU primeiro encontro
com Barack Obama, hoje,
espera-se que o presidente Lula toque no tema
sensível da sobretaxa imposta ao
álcool brasileiro, de pouco mais
de 14 centavos de dólar por litro.
O contencioso se arrasta há anos.
Com a reviravolta prometida pelo presidente Obama na política
energética do país que mais consome combustíveis no mundo, viceja no
Planalto e entre produtores
a expectativa
de que a tarifa
seja enfim eliminada. Melhor, porém, ir
devagar com o
andor.
O planeta e a
economia já
deram muitas voltas desde que
teve início o boom do álcool. De
dois fatores que contribuíram
para a expansão dos investimentos no setor -carros flex, no Brasil, e substituição do aditivo
MTBE na gasolina dos EUA-,
pelo menos do segundo se pode
dizer que seu efeito parece
esgotado.
Depois de um salto, há três
anos, as exportações do biocombustível brasileiro ao mercado
americano oscilaram muito, mas
não ultrapassaram o patamar de
10% da produção no melhor ano
(2006, com 1,8 bilhão de litros
embarcados). Enquanto a produção brasileira disparava, movida sobretudo pelo mercado interno, as vendas diretas para os
EUA em 2008 ficaram em mero
1,5 bilhão de litros, contra uma
produção total de 26,6 bilhões.
São cifras modestas diante dos
57 bilhões de litros de álcool que
os americanos estariam consumindo em 2022, se um dia vier a
ser cumprida a meta, fixada por
George W. Bush no final de
2006, de aumentar a participação dos biocombustíveis para
20% na matriz americana. Como
os Estados Unidos não têm terra
para ampliar tanto sua produção,
produtores brasileiros se animaram com a perspectiva de mercado. Mais entusiasmo ainda despertou Obama candidato, com as
indicações de
que aceleraria a
marcha para
fontes alternativas de energia, biocombustíveis incluídos.
Obama se
elegeu, mas sobreveio também a maior
crise econômica em muitas
décadas. Preços e consumo de álcool combustível nos EUA estão
caindo, de par com os da gasolina. Já se dá como certo que as
metas de Bush não serão
cumpridas.
Não parece provável que o novo presidente, na tormenta atual,
assuma o compromisso de rever
a sobretaxa. A medida seria encarada como danosa aos interesses do produtor americano. Obama pode até surpreender e fazer
algum aceno, mas os brasileiros
devem preparar-se para esperar
mais algum tempo pela medida
que, além de justa, traria mais segurança ao setor alcooleiro.
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