|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FERNANDO RODRIGUES
O stalinismo no futebol
BRASÍLIA - Um grande prazer
nas manhãs de domingo da minha
infância era quando meu pai decidia, de última hora, que iríamos a
uma partida de futebol à tarde, no
Morumbi. Esse tempo passou. Lula
e seu ministro do Esporte, Orlando
Silva, anunciaram ontem que só serão admitidos nos estádios em 2010
os torcedores previamente cadastrados e portadores de um documento de identificação específico
para eventos esportivos.
A ideia é reduzir a criminalidade
nos estádios. Mas, em vez de punir
os vândalos, o governo socializou o
problema. Pessoas de bem terão de
se submeter ao incômodo processo
de obter uma carteirinha. Não passou pela cabeça dos formuladores
do governo que esse tipo de exigência fere o direito de ir e vir.
A história é pródiga em exemplos
dessa ordem. Na antiga União Soviética, os cidadãos eram obrigados
a ter um passaporte interno. Só mudava de cidade quem tivesse autorização prévia de trabalho e moradia
no local de destino.
O ministro Orlando Silva é do PC
do B, partido cujo modelo de nação
até recentemente era a Albânia.
Também foi presidente da UNE,
uma espécie de sindicato de ex-estudantes em atividade e berço dos
"maníacos da carteirinha".
Há soluções mais simples para
combater a criminalidade nos estádios. Por exemplo, cadastrar vândalos (muitos são conhecidíssimos) e
obrigá-los a ficar em delegacias nos
dias e horários de jogos.
Com a carteirinha do governo, já
é possível imaginar o diálogo. "Vamos ao futebol hoje?", perguntará
um amigo ao outro. E a resposta:
"Não dá. Não sou cadastrado no sistema do Lula...". Turistas estrangeiros passeando pelo Rio e interessados em assistir a um Fla-Flu no Maracanã? Sem chances.
É o governo querendo resolver
um problema e criando um ainda
maior. O consolo é saber que nada
disso dará certo. Como sempre.
frodriguesbsb@uol.com.br
Texto Anterior: Londres - Clóvis Rossi: Pensando o impensável Próximo Texto: Rio de Janeiro - Ruy Castro: Risos galináceos Índice
|