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CLÓVIS ROSSI
Pensando o impensável
LONDRES - Teste para o leitor: se
você ler que um importante líder
político está dizendo que um determinado país deve "manter sua credibilidade, honrar seus compromissos e garantir os ativos de nosso
país", vai imediatamente pensar
que alguém está falando em risco de
calote no Brasil, na Argentina, na
Venezuela ou em algum outro exótico país tropical, certo?
Era certo até uns anos atrás. Agora, a frase, literalmente reproduzida, é do primeiro-ministro chinês
Wen Jiabao, e o alvo são, sim, os Estados Unidos da América.
"Nós emprestamos uma enorme
quantia de dinheiro aos Estados
Unidos e, naturalmente, estamos
preocupados com a segurança de
nossos ativos", disse Wen.
Calcula-se que dois terços dos
praticamente US$ 2 trilhões de reservas da China estão em ativos
norte-americanos, especialmente
títulos do Tesouro. É natural, portanto, que estejam preocupados.
Mas não pense que é apenas
aquela velha história de que quem
não dorme à noite é o credor, nunca
o devedor. Desde que a crise global
se agravou, a partir do último trimestre do ano passado, a palavra
calote, associada a Estados Unidos,
começou a aparecer aqui e ali, a
princípio timidamente.
Quando a possibilidade de um calote foi mencionada no endereço
do Council on Foreign Relations,
talvez o principal centro de pesquisas de política internacional do
planeta, aí a coisa ficou realmente
assustadora.
Não sei se alguém já parou para
estudar as consequências desse cenário de pesadelo. O fato é que Wen
Jiabao acrescentou que a primeira
prioridade da China é defender os
seus próprios interesses, ainda que
com o outro olho na estabilidade financeira internacional, coisas que
são "interrelacionadas".
É um aceno no sentido de que a
China pode parar de financiar os
EUA? Se for, quem vai perder o sono somos todos.
crossi@uol.com.br
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