São Paulo, domingo, 14 de março de 2010

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Riscos a considerar

Embora atravesse bom momento, a economia do país cresce baseada em modelo que pode gerar problemas no futuro

NESTA SEMANA, o IBGE divulgou a queda de 0,2% do PIB brasileiro em 2009, um bom resultado tendo em vista as circunstâncias globais. Na ausência de maiores acidentes, parece assegurado um crescimento próximo a 6% em 2010, o que certamente reforçará o otimismo com o futuro da economia brasileira.
Governo e setor privado parecem ter abraçado as projeções de crescimento estrutural próximo a 5% ao ano, o que poderia fazer do Brasil a quinta maior economia do mundo em duas décadas. Neste contexto, é importante levar em conta algumas visões mais cautelosas em relação ao cenário de céu de brigadeiro para os próximos anos que parece quase consensual hoje.
Talvez a principal questão para o futuro diga respeito ao modelo de desenvolvimento que se consolidará. De um lado há os que consideram que o país se voltou para um crescimento calcado em alto consumo e baixa taxa de poupança interna, no qual os investimentos serão financiados necessariamente por elevados deficits nas contas externas.
Para estes, a persistência desse padrão é inexorável, restando à política econômica minimizar as consequências negativas, por exemplo, na forma de austeridade fiscal, eficiência regulatória e educação.
Uma dessas consequências é o risco de desindustrialização. Como o modelo é acompanhado por câmbio valorizado e baixa competitividade industrial, a perda de empregos neste setor seria parte inevitável do processo, pois o mercado interno sozinho não tem escala para rentabilizar cadeias industriais no estado da arte de tecnologia.
Do outro lado estão os que se identificam com o modelo asiático e consideram arriscado contar com poupança externa. Estão apoiados pela experiência dos últimos anos, que mostrou o sucesso de estratégias de crescimento ancoradas em poupança interna.
Nesta visão, o modelo baseado em consumo seria incapaz de dinamizar a economia de forma sustentável para criar empregos de qualidade para dezenas de milhões de brasileiros nas próximas décadas. Mesmo o pré-sal, que tanto investimento trará, poderia se revelar um problema, pois acentuaria a tendência de excesso de consumo já impregnada na economia.
Para o segundo grupo é um erro a resignação com a baixa poupança, pois seria possível perseguir um modelo que fosse gradualmente menos consumista, sem implicar conflitos com a vontade popular. Com isso, seria possível conquistar melhores condições para o investimento financiado internamente, o que reduziria as pressões de valorização cambial e o risco de deficits externos e desindustrialização.
A melhor receita está em algum ponto intermediário entre uma e outra visão. Faz sentido abrir a economia, e até incorrer em deficits externos moderados por períodos limitados, desde que o movimento redunde em aumento da capacidade produtiva das empresas locais e em diversificação tecnológica e industrial. Tomar emprestado do exterior apenas para financiar o consumo será sempre uma atitude de alto risco, a ser evitada.


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