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Riscos a considerar
Embora atravesse bom momento, a economia do país cresce baseada em modelo que pode gerar problemas no futuro
NESTA SEMANA, o IBGE
divulgou a queda de
0,2% do PIB brasileiro
em 2009, um bom resultado tendo em vista as circunstâncias globais. Na ausência
de maiores acidentes, parece assegurado um crescimento próximo a 6% em 2010, o que certamente reforçará o otimismo com
o futuro da economia brasileira.
Governo e setor privado parecem ter abraçado as projeções de
crescimento estrutural próximo
a 5% ao ano, o que poderia fazer
do Brasil a quinta maior economia do mundo em duas décadas.
Neste contexto, é importante levar em conta algumas visões
mais cautelosas em relação ao
cenário de céu de brigadeiro para
os próximos anos que parece
quase consensual hoje.
Talvez a principal questão para
o futuro diga respeito ao modelo
de desenvolvimento que se consolidará. De um lado há os que
consideram que o país se voltou
para um crescimento calcado em
alto consumo e baixa taxa de
poupança interna, no qual os investimentos serão financiados
necessariamente por elevados
deficits nas contas externas.
Para estes, a persistência desse
padrão é inexorável, restando à
política econômica minimizar as
consequências negativas, por
exemplo, na forma de austeridade fiscal, eficiência regulatória e
educação.
Uma dessas consequências é o
risco de desindustrialização. Como o modelo é acompanhado
por câmbio valorizado e baixa
competitividade industrial, a
perda de empregos neste setor
seria parte inevitável do processo, pois o mercado interno sozinho não tem escala para rentabilizar cadeias industriais no estado da arte de tecnologia.
Do outro lado estão os que se
identificam com o modelo asiático e consideram arriscado contar com poupança externa. Estão
apoiados pela experiência dos últimos anos, que mostrou o sucesso de estratégias de crescimento
ancoradas em poupança interna.
Nesta visão, o modelo baseado
em consumo seria incapaz de dinamizar a economia de forma
sustentável para criar empregos
de qualidade para dezenas de milhões de brasileiros nas próximas décadas. Mesmo o pré-sal,
que tanto investimento trará,
poderia se revelar um problema,
pois acentuaria a tendência de
excesso de consumo já impregnada na economia.
Para o segundo grupo é um erro a resignação com a baixa poupança, pois seria possível perseguir um modelo que fosse gradualmente menos consumista,
sem implicar conflitos com a
vontade popular. Com isso, seria
possível conquistar melhores
condições para o investimento
financiado internamente, o que
reduziria as pressões de valorização cambial e o risco de deficits
externos e desindustrialização.
A melhor receita está em algum ponto intermediário entre
uma e outra visão. Faz sentido
abrir a economia, e até incorrer
em deficits externos moderados
por períodos limitados, desde
que o movimento redunde em
aumento da capacidade produtiva das empresas locais e em diversificação tecnológica e industrial. Tomar emprestado do exterior apenas para financiar o
consumo será sempre uma atitude de alto risco, a ser evitada.
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