São Paulo, sábado, 14 de abril de 2007

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Areia na engrenagem

O PRESIDENTE do Banco Central, Henrique Meirelles, manifestou preocupação sobre o movimento de apreciação da moeda brasileira.
Desde setembro de 2005, o BC adquire volumes inauditos de dólares no mercado. Em seus comunicados, justifica tais compras como meio de reforçar suas reservas de divisas, visando tornar a economia mais resistente a eventuais choques externos.
Em nenhum momento o BC associou a sua política de compra de dólares à intenção de influir na cotação. Não se imagina que possa visar a conduzir o preço da moeda americana a um nível específico -tentativa contraditória com o modelo de câmbio flutuante e potencialmente desastrosa. Mas não há dúvidas de que a preocupação em amortecer a alta do real influencia a sua ação.
O BC tem adquirido todo o fluxo cambial -ou seja, toda a oferta de dólares que excede a demanda. O fato de, ainda assim, a cotação vir tendendo a cair tem sido associado ao forte aumento das operações em mercados futuros que representam "apostas" na apreciação do real.
Entre outros fatores, a extrema previsibilidade da atuação do BC em vários campos que condicionam o ganho dessas aplicações estimula o crescimento dessas operações especulativas. Soam como música aos ouvidos dos investidores a "certeza" de que a taxa básica de juros vai ser reduzida de modo lento e regular (um quarto de ponto percentual a cada seis semanas) e o o padrão repetitivo da intervenção do BC no mercado cambial -no segmento à vista e, especialmente, no mercado futuro.
Alguma perturbação na segurança sobre esses ganhos financeiros precisa ocorrer. Que o anúncio de ontem do BC, de que está desobrigado de anunciar na véspera se vai ou não fazer leilões no mercado futuro de câmbio, seja o início da mudança.


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