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Areia na engrenagem
O PRESIDENTE do Banco
Central, Henrique Meirelles, manifestou preocupação sobre o movimento de
apreciação da moeda brasileira.
Desde setembro de 2005, o BC
adquire volumes inauditos de
dólares no mercado. Em seus comunicados, justifica tais compras como meio de reforçar suas
reservas de divisas, visando tornar a economia mais resistente a
eventuais choques externos.
Em nenhum momento o BC
associou a sua política de compra
de dólares à intenção de influir
na cotação. Não se imagina que
possa visar a conduzir o preço da
moeda americana a um nível específico -tentativa contraditória com o modelo de câmbio flutuante e potencialmente desastrosa. Mas não há dúvidas de que
a preocupação em amortecer a
alta do real influencia a sua ação.
O BC tem adquirido todo o fluxo cambial -ou seja, toda a oferta de dólares que excede a demanda. O fato de, ainda assim, a
cotação vir tendendo a cair tem
sido associado ao forte aumento
das operações em mercados futuros que representam "apostas"
na apreciação do real.
Entre outros fatores, a extrema previsibilidade da atuação do
BC em vários campos que condicionam o ganho dessas aplicações estimula o crescimento dessas operações especulativas.
Soam como música aos ouvidos
dos investidores a "certeza" de
que a taxa básica de juros vai ser
reduzida de modo lento e regular
(um quarto de ponto percentual
a cada seis semanas) e o o padrão
repetitivo da intervenção do BC
no mercado cambial -no segmento à vista e, especialmente,
no mercado futuro.
Alguma perturbação na segurança sobre esses ganhos financeiros precisa ocorrer. Que o
anúncio de ontem do BC, de que
está desobrigado de anunciar na
véspera se vai ou não fazer leilões no mercado futuro de câmbio, seja o início da mudança.
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