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TENDÊNCIAS/DEBATES
"É correto o uso das Forças Armadas para o combate à violência no Rio de Janeiro?"
SIM
O novo papel das Forças Armadas
SÉRGIO CABRAL
A POPULAÇÃO do Estado do Rio
de Janeiro vem sofrendo nos
últimos anos com a escalada da
violência. Os índices relativos a todos
os crimes vêm subindo de forma assustadora, o que tem feito com que
seus 15 milhões de habitantes e 6 milhões de visitantes anuais se sintam
acuados por marginais cada vez mais
ousados, armados e violentos.
As polícias civil e militar têm combatido sem descanso o crime. Mas há
que se reconhecer que elas sofrem
com a falta de equipamentos e de infra-estrutura e, sobretudo, com a carência de pessoal para fornecer segurança adequada à população.
O governo do Estado, que assumiu
há cem dias, cumprirá o seu compromisso de reequipar a polícia e aumentar o seu contingente. Isso, no entanto, leva tempo, custa dinheiro e a população não agüenta mais viver nesse
clima de insegurança.
Por outro lado, o Rio de Janeiro é o
Estado da federação que possui o
maior contingente das Forças Armadas no Brasil. Aqui estão sediadas bases importantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, que mantêm
não apenas recrutas, mas soldados especializados em todo tipo de operação militar, inclusive de policiamento, como a que vem sendo feita pelo
governo brasileiro no Haiti.
Esse quadro fático é que me levou,
como governador do Estado, a solicitar ao presidente Lula que os militares contribuam em áreas específicas e
por tempo determinado com as forças policiais estaduais no combate à
violência no Rio de Janeiro. Isso, até
que a situação volte à normalidade e o
Estado consiga fazer os investimentos necessários em segurança pública.
O pedido foi feito com base na alteração que o Congresso Nacional promoveu em 2004 na lei complementar
nº 97, de 1999, que regula o emprego
das Forças Armadas. Essa alteração
permitiu que o governador do Estado,
reconhecendo a insuficiência de
meios para garantir adequadamente
a segurança dos cidadãos (parágrafo
3º do art. 15 da lei complementar nº
97/99, na redação dada pela lei complementar nº 117/04), solicite o emprego das Forças Armadas "em área
previamente estabelecida e por tempo limitado", em "ações de caráter
preventivo e repressivo necessárias
para assegurar o resultado das operações na garantia da lei e da ordem"
(parágrafo 4º do art. 15 da mesma lei).
A lei determina ainda que seja
transferido às Forças Armadas o controle operacional dos órgãos de segurança necessários para o desenvolvimento das ações delimitadas no ato
que deferir o pedido, obedecidas as
competências legais e constitucionais
de cada esfera de poder (parágrafos 5º
e 6º do mesmo art. 15).
Vê-se, assim, que a lei complementar nº 117, de 2004, regulamentando
os arts. 142 e 144 da Constituição Federal, flexibilizou o emprego das Forças Armadas no país. Antes, esse emprego somente era admitido na forma
de intervenção em unidade da federação por iniciativa do próprio presidente da República, ou a pedido dos
presidentes do Supremo Tribunal Federal, do Senado ou da Câmara. Hoje,
as Forças Armadas podem, a pedido
do governador do Estado, atuar de
forma delimitada no combate à criminalidade, em conjunto com as forças
de segurança do Estado.
O que está em pauta é a discussão
sobre o novo papel das Forças Armadas no Estado brasileiro; um Estado
que tem tradição de opção pela paz,
diplomacia em relação a outros povos
e que enfrenta sérios problemas de
segurança nos principais centros urbanos. O governo Lula tem sinalizado
sobre a necessidade de se dar às Forças Armadas atribuições complementares para que colaborem de forma
mais efetiva com o desenvolvimento
da nação, como ocorre com seu emprego na recuperação de estradas.
A população do meu Estado tem dificuldade de entender como pode ser
vítima de atos criminosos cada vez
mais ousados, quando em seu território há militares prontos a entrar em
ação e ajudar no combate ao crime em
uma situação emergencial como esta.
O Estado brasileiro tem que enfrentar com coragem e determinação
o problema da violência e do crime
organizado. Não podemos correr o
risco de perder essa guerra contra o
crime pelo medo do novo.
SÉRGIO CABRAL, 44, é governador do Estado do Rio de
Janeiro (PMDB).
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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