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Eleições e comércio
Nos EUA, democratas atacam o livre comércio, mas é improvável que, na Presidência, ajam para minar tratados vigentes
AAMÉRICA Latina, que
estava fora da agenda
da eleição presidencial
americana, entrou no
debate. O motivo foi o acordo de
livre comércio entre EUA e Colômbia, que o presidente Bush
enviou para o Congresso.
Os dois pré-candidatos do Partido Democrata, de oposição, rivalizam para ver quem condena
com mais vigor todos os acordos
de livre comércio do país. No
eleitorado há uma impressão generalizada, embora incorreta, de
que esses tratados são responsáveis pelo desemprego no país.
Tal hipótese é particularmente
forte em Estados como a Pensilvânia, onde no dia se 22 realiza
mais uma eleição primária decisiva para que Hillary Clinton
possa manter uma centelha de
chance na disputa com Barack
Obama pela candidatura dos democratas à Presidência.
Os eleitores que mais condenam os acordos constituem o
principal núcleo demográfico de
suporte de Hillary: homens e
mulheres brancos acima de 40
anos e com nível de escolaridade
baixo. Por isso, caiu como uma
bomba para a senadora a revelação de que seu chefe de campanha, Mark Penn, na condição de
presidente de um dos mais importantes escritórios de lobby e
relações públicas dos EUA, vinha
trabalhando, concomitantemente aos serviços que prestava a Hillary, pela aprovação do acordo
com a Colômbia, pago pelo governo do país sul-americano.
Penn renunciou ao posto político e perdeu o contrato com os
colombianos após o jornal "Wall
Street Journal" ter publicado a
informação de sua dupla condição de estrategista a favor e contra o acordo entre os dois países.
Mas a maior prejudicada talvez
venha a ser Hillary. Pouco antes
da primária de Ohio, outro Estado em que o sentimento contra o
livre comércio é enorme (e onde
ela obteve vitória importante),
seus assessores denunciaram
que auxiliares de Obama haviam
se encontrado com representantes do governo do Canadá para
assegurar-lhes que as diatribes
do pré-candidato contra o Nafta
eram apenas retórica de campanha e que, eleito presidente, ele
nada faria contra esse acordo de
livre comércio entre americanos,
canadenses e mexicanos.
Agora, é Hillary quem se vê colhida em contradição severa:
além de Penn, seu próprio marido, o ex-presidente Bill Clinton,
defende o tratado com a Colômbia, assim como um grande número de pessoas ligadas ao casal.
Ela mantém o discurso de que
é independente e de que lutará
com todas as forças contra o
acordo com a Colômbia. Mas os
danos à sua candidatura poderão
ser severos. De fato, é pouco provável que ela ou Obama, uma vez
na Casa Branca, impeça a conclusão de novos acordos internacionais de livre comércio, já que
esta é uma política de Estado, suprapartidária, dos EUA.
Há um lugar-comum de que os
democratas são mais protecionistas do que os republicanos em
questões de comércio, mas ele só
é verdadeiro em relação ao comportamento dos partidos no
Congresso. No Executivo, eles
costumam agir de maneira muito semelhante nesse tema, como
fez o próprio Bill Clinton.
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