São Paulo, segunda-feira, 14 de abril de 2008

Próximo Texto | Índice

Eleições e comércio

Nos EUA, democratas atacam o livre comércio, mas é improvável que, na Presidência, ajam para minar tratados vigentes

AAMÉRICA Latina, que estava fora da agenda da eleição presidencial americana, entrou no debate. O motivo foi o acordo de livre comércio entre EUA e Colômbia, que o presidente Bush enviou para o Congresso.
Os dois pré-candidatos do Partido Democrata, de oposição, rivalizam para ver quem condena com mais vigor todos os acordos de livre comércio do país. No eleitorado há uma impressão generalizada, embora incorreta, de que esses tratados são responsáveis pelo desemprego no país.
Tal hipótese é particularmente forte em Estados como a Pensilvânia, onde no dia se 22 realiza mais uma eleição primária decisiva para que Hillary Clinton possa manter uma centelha de chance na disputa com Barack Obama pela candidatura dos democratas à Presidência.
Os eleitores que mais condenam os acordos constituem o principal núcleo demográfico de suporte de Hillary: homens e mulheres brancos acima de 40 anos e com nível de escolaridade baixo. Por isso, caiu como uma bomba para a senadora a revelação de que seu chefe de campanha, Mark Penn, na condição de presidente de um dos mais importantes escritórios de lobby e relações públicas dos EUA, vinha trabalhando, concomitantemente aos serviços que prestava a Hillary, pela aprovação do acordo com a Colômbia, pago pelo governo do país sul-americano.
Penn renunciou ao posto político e perdeu o contrato com os colombianos após o jornal "Wall Street Journal" ter publicado a informação de sua dupla condição de estrategista a favor e contra o acordo entre os dois países.
Mas a maior prejudicada talvez venha a ser Hillary. Pouco antes da primária de Ohio, outro Estado em que o sentimento contra o livre comércio é enorme (e onde ela obteve vitória importante), seus assessores denunciaram que auxiliares de Obama haviam se encontrado com representantes do governo do Canadá para assegurar-lhes que as diatribes do pré-candidato contra o Nafta eram apenas retórica de campanha e que, eleito presidente, ele nada faria contra esse acordo de livre comércio entre americanos, canadenses e mexicanos.
Agora, é Hillary quem se vê colhida em contradição severa: além de Penn, seu próprio marido, o ex-presidente Bill Clinton, defende o tratado com a Colômbia, assim como um grande número de pessoas ligadas ao casal.
Ela mantém o discurso de que é independente e de que lutará com todas as forças contra o acordo com a Colômbia. Mas os danos à sua candidatura poderão ser severos. De fato, é pouco provável que ela ou Obama, uma vez na Casa Branca, impeça a conclusão de novos acordos internacionais de livre comércio, já que esta é uma política de Estado, suprapartidária, dos EUA.
Há um lugar-comum de que os democratas são mais protecionistas do que os republicanos em questões de comércio, mas ele só é verdadeiro em relação ao comportamento dos partidos no Congresso. No Executivo, eles costumam agir de maneira muito semelhante nesse tema, como fez o próprio Bill Clinton.


Próximo Texto: Editoriais: Trégua em Roraima

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.