São Paulo, domingo, 14 de maio de 2000


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Réquiem para a democracia?

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Na campanha eleitoral para a Presidência da Argentina, em 1983, Raúl Alfonsín (que acabaria eleito) usava como principal mote a imagem de que, com a democracia, que seria restabelecida com a eleição, os argentinos comeriam mais, teriam mais educação, mais saúde etc. etc.
Sou obrigado a confessar, meio a contragosto, que acreditava na pregação de Alfonsín, um tanto por empatia com ele, mas muito mais pela necessidade mental de pensar que a democracia não poderia servir apenas (e mesmo assim já seria muito) para pôr fim à boçalidade implantada pelo regime militar do período 1976/1983.
Dezessete anos e várias transições para a democracia depois, também em outros países, permanece a necessidade mental de ter essa crença, mas está ficando difícil.
Pior: não estou sozinho nesse sentimento de que a democracia, ainda que seja, como é, o pior dos regimes, exceto todos os outros, não está funcionando, pelo menos na maior parte da América Latina.
Pesquisa feita pela Corporação Latinobarômetro mostra que apenas 37% dos latino-americanos estão satisfeitos com o funcionamento da democracia. Ou um de cada três.
No Brasil, a avaliação da democracia, como regime ideal, e de seu funcionamento consegue ser ainda pior, o que é inquietante. Que colombianos, equatorianos, peruanos e paraguaios desconfiem da democracia, ainda dá para entender, conhecidos que são os problemas que enturvam o sistema nos seus respectivos países.
O que choca é que os brasileiros satisfeitos com o funcionamento da democracia sejam, hoje, apenas 17%, uma queda de 10 pontos percentuais em relação ao índice encontrado em pesquisa semelhante feita dois anos antes. Menos de um em cinco.
É um terreno desgraçadamente fértil para qualquer tipo de aventura. De farda ou "collorida", tanto faz. O desastre acaba sendo parecido.


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