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Réquiem para a democracia?
CLÓVIS ROSSI
SÃO PAULO - Na campanha eleitoral para a Presidência da Argentina, em
1983, Raúl Alfonsín (que acabaria
eleito) usava como principal mote a
imagem de que, com a democracia,
que seria restabelecida com a eleição,
os argentinos comeriam mais, teriam
mais educação, mais saúde etc. etc.
Sou obrigado a confessar, meio a
contragosto, que acreditava na pregação de Alfonsín, um tanto por empatia com ele, mas muito mais pela
necessidade mental de pensar que a
democracia não poderia servir apenas (e mesmo assim já seria muito)
para pôr fim à boçalidade implantada pelo regime militar do período
1976/1983.
Dezessete anos e várias transições
para a democracia depois, também
em outros países, permanece a necessidade mental de ter essa crença, mas
está ficando difícil.
Pior: não estou sozinho nesse sentimento de que a democracia, ainda
que seja, como é, o pior dos regimes,
exceto todos os outros, não está funcionando, pelo menos na maior parte
da América Latina.
Pesquisa feita pela Corporação Latinobarômetro mostra que apenas
37% dos latino-americanos estão satisfeitos com o funcionamento da democracia. Ou um de cada três.
No Brasil, a avaliação da democracia, como regime ideal, e de seu funcionamento consegue ser ainda pior,
o que é inquietante. Que colombianos, equatorianos, peruanos e paraguaios desconfiem da democracia,
ainda dá para entender, conhecidos
que são os problemas que enturvam o
sistema nos seus respectivos países.
O que choca é que os brasileiros satisfeitos com o funcionamento da democracia sejam, hoje, apenas 17%,
uma queda de 10 pontos percentuais
em relação ao índice encontrado em
pesquisa semelhante feita dois anos
antes. Menos de um em cinco.
É um terreno desgraçadamente fértil para qualquer tipo de aventura.
De farda ou "collorida", tanto faz. O
desastre acaba sendo parecido.
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