São Paulo, domingo, 14 de maio de 2000


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TENDÊNCIAS/DEBATES

Diálogo para o desenvolvimento


O governo não fabrica, não manufatura e não exporta. Daí a urgência do diálogo, para o qual todos estão convidados


ALCIDES TÁPIAS

O lançamento, na última segunda-feira, pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, do programa Fóruns de Competitividade parece destinado a constituir uma daquelas iniciativas históricas que podem mudar definitivamente a participação brasileira no comércio mundial.
O Brasil exporta muito pouco: participa com menos de 1% do comércio internacional. Aliás, o país estagnou nesse percentual tão pequeno, bem abaixo do seu potencial, há dez anos. Precisamos mudar isso, e os Fóruns de Competitividade são os instrumentos indicados para induzir essa mudança. Pela primeira vez, todas as forças produtivas da sociedade -trabalhadores e empresários- vão estar em diálogo permanente com o governo e o Congresso Nacional.
Pode-se até dizer que não há nenhuma novidade nessas iniciativas de diálogo. É verdade que outras tentativas foram feitas, algumas com resultados razoáveis. Mas nenhuma teve a envergadura desta, que visa a identificar gargalos e a buscar suas soluções. É natural que a expectativa em torno dos Fóruns de Competitividade seja obter resultados muito bons, extrapolando a simples dimensão econômica, ainda que ela conserve-se importantíssima.
Os Fóruns de Competitividade são ambientes que vão permitir a formação de diagnósticos aprofundados sobre cada uma das cadeias produtivas que se entrelaçam na economia brasileira.
O acesso comum de governo e iniciativa privada ao conhecimento produzido neles permitirá a busca do aumento de eficiência em cada elo do processo de produção. Cada elo é significativo, mas, isoladamente, não tem como disputar mercado com as extensas, complexas e sofisticadas cadeias produtivas internacionais. O fato é que hoje a competição se faz entre cadeias produtivas.
No rastro desse programa, com certeza mudarão indicadores nacionais importantes, incluindo os sociais. Entre eles estão a redução do índice de desemprego e o aumento da renda média do trabalhador que já tem ocupação, que será também beneficiado com o fortalecimento do mercado interno. A questão do emprego é emblemática e prioritária. Com mais competitividade no mercado global, os produtos brasileiros vão gerar muitos empregos. Cada US$ 1 bilhão em vendas externas cria e mantém 60 mil empregos em nossa economia.
A conta é simples: no ano passado exportamos menos de US$ 50 bilhões. Nossa meta é chegar a US$ 100 bilhões em exportações em 2002. Só com esse salto -sem contar outros inúmeros benefícios econômicos- podem ser criados pelo menos 3 milhões de empregos.
Para viabilizar esse incalculável ganho social, o governo já criou mecanismos para que as exportações brasileiras aumentassem. O Ministério do Desenvolvimento, agindo em harmonia com outros órgãos públicos envolvidos nessa questão, reformulou a atuação da Câmara de Comércio Exterior (Camex).
Além disso, o Brasil dispõe agora de um dos mais modernos sistemas de administração de comércio exterior do mundo -o Siscomex-, que dá à atividade exportadora características de operação "on line". Adicionalmente, mais competitivos, os produtos brasileiros enfrentam com mais facilidade os produtos importados.
Partimos, também, para a defesa comercial de nossos produtos de exportação. Lutamos contra subsídios oficiais aos concorrentes, que freiam a nossa capacidade de vender no exterior.
Existem também as barreiras tarifárias, que bloqueiam nossos produtos nas alfândegas estrangeiras. Tais barreiras constituem reservas de mercado que impedem o fornecimento de bens com melhores preços e condições. São injustas e, por isso, estão sendo condenadas pela Organização Mundial do Comércio. Outros países enfrentam as mesmas dificuldades e, a despeito delas, se tornaram grandes exportadores. O Brasil deve seguir esse caminho.
Esse esforço, entretanto, só faz sentido se a produção brasileira para a exportação tiver competitividade. O governo não fabrica, não manufatura e não exporta. Daí a urgência do diálogo -a ser proporcionado pelos Fóruns de Competitividade-, para o qual todos os trabalhadores e empresários brasileiros estão convidados. O diálogo será fundamental para o desenvolvimento do Brasil, e a participação da iniciativa privada e das classes trabalhadoras não é apenas para demonstrar patriotismo, como alguns podem erroneamente pensar, mas para garantir excelentes negócios para as suas empresas e gerar mais empregos para os brasileiros.


Alcides Lopes Tápias, 57, é ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Foi vice-presidente do Conselho de Administração da Camargo Corrêa.



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